Recorrentes estatísticas dos últimos dias, tanto de organismos portugueses como internacionais, vieram (finalmente?) despertar os distraídos para o facto, estatisticamente indiscutível, que é, literalmente, a falta de Educação, em todos os seus aspectos e sentidos (analfabetismo estrutural atávico, disfuncionamento do sistema, altíssimo abandono escolar, reduzidíssima taxa de diplomados, etc.) a causa de todos os atrasos da Sociedade Portuguesa e a causa de a mesma aparecer cada vez mais, insofismavelmente, na cauda da União Europeia. Valha a verdade e sirva-nos de consolação que órgãos institucionais da praça lusa (que até há pouco semanalmente proclamavam que «os diplomas constituem o mais curto caminho para o desemprego» e aplaudiam «os Reitores com coragem de suprimir cursos universitários») descobriram agora, e graças às referidas múltiplas e concordantes estatísticas, que «as nossas elites estão desqualificadas”, que “é urgente apostar na educação», que «crescimento da escolaridade aumenta PIB», etc., e que o antigo ministro [português]Mariano Gago estava cheio de razão quando há muito afirmou que já «não tinha pachorra para aturar os eternos imbecis que diziam que Portugal tinha letrados e diplomados a mais!»
São, pois, muitas as razões que me levam a congratular-me pela realização deste Congresso Internacional sobre Sociologia da Educação na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de que a principal nem sequer é a que constitui o objectivo específico da Universidade Lusófona, a saber, na linguagem oficial do seu Decreto-Lei fundador, «o desenvolvimento de todos os Países e Povos de Língua Portuguesa» (D.L. 94/98, de 14 de Abril), ou, em linguagem menos formal, contribuir para que a «Lusofonia» (a não confundir com um certo «inter ou transatlantismo» da moda e à moda da NATO ou dos americanos d’além e aquém Atlântico...) passe de mero mito ou retórica vã a um «Desígnio Lusófono» realista e autónomo, não ultrapassado mas, ao contrário, tornado mais necessário e mais urgente pelos desejáveis processos e progressos da «Integração Europeia de Portugal», da «Mercosulização do Brasil», da «Aliança União Europeia-Mercosul», das várias «Integrações Regionais dos Países e Povos Africanos e Asiáticos de Língua Portuguesa», de todas as «Aculturações das Diásporas Lusófonas» e da «Globalização económico-societal à escala planetária», opondo-se sim e frontalmente à «Loucura Terrorista» e à «histeria antiterrorista» que o dia 11 de Setembro 2001 despoletou nos Estados Unidos e na Humanidade e que, uma e outra, constituem, por razões diversas mas com possíveis idênticos resultados, sérias ameaças de regresso à barbárie, mediante o incumprimento ou esquecimento das tão longas e tão difíceis conquistas que foram o Estado de Direito Democrático e a legalidade internacional e da única e para todos (“terroristas”, “não-terroristas” e “anti-terroristas”) obrigatória Carta-Magna da civilização que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A razão principal é que, tratando-se de uma Conferência sobre Sociologia da Educação e proclamando a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias desde o início que uma das suas essenciais razões de ser é a evidência axiomática de que a grande conquista democrática e revolucionária da Educação Universal, Obrigatória e Gratuita (“Ensino Primário” no tempo dos nossos avós, “Ensino Secundário” no tempo dos nossos Pais, “Ensino Superior" no nosso tempo e “Ensino mais que superior e sobretudo permanente ao longo de toda a vida” no tempo dos nossos filhos e netos!) constitui a verdadeira alfabetização ou literacia do século XXI e o verdadeiro motor de modernização e desenvolvimento humano das Sociedades Contemporâneas. Embora em Portugal ainda continue a haver até Sociólogos da Educação e os opinion-makers do costume a discutir sobre o sexo dos anjos e a defender que não é a Educação o motor do Desenvolvimento mas sim o Desenvolvimento o motor da Educação... Mas, para a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, o contrário é tão evidente que se tornou um espécie de Kantiano imperativo categórico e não é sem alguma ironia que o Reitor de uma Instituição laica como a ULHT ainda há dias se permitia concluir um artigo intitulado “O Estado, a Sociedade Civil e Educação em Portugal” com uma glosa da sentença bíblica: «Procurai o Reino da Educação e a sua justiça e tudo mais vos será dado por acréscimo e nunca haverá acréscimos que possam substituir, a não ser ilusoriamente e até contraproducentemente, este "único necessário"».E nada mais acrescentarei para manifestar os meus votos de boas vindas, de boa estadia e de bom trabalho a todos os congressistas senão referir o pequeno e jornalístico dossiê sobre o Ensino Superior nos Estados Unidos publicado no dia 15 de Setembro último pela revista “Newsweek” e designadamente o brevíssimo ensaio de Vartan Gregorian, intitulado “As Quatro Causas do Segredo do nosso Êxito” (pg. 58), cuja conclusão é lapidar e é a seguinte: «A participação da população americana no Ensino Superior, cujas universidades são por todos reconhecidas como as melhores do mundo, passou de 4% em 1900 para mais de 65% no fim do século XX. A sua inigualável capacidade para a investigação colocou os Estados Unidos na vanguarda de todas as ciências, tecnologias e humanidades...».
Permitam-me, Senhores Conferencistas, que estas minhas últimas palavras sejam intencionalmente dirigidas a todos os infindáveis provincianos americanófilos e americanófobos da Sociedade Portuguesa...
* Alocução produzida em “Midterm Conference Europe 2003 on Critical Education and Utopia: Emergent Perspectives for the 21st Century”, organização da Associação Internacional de Sociologia, sendo presidente da Comissão Organizadora o director da Área de Ciências da Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,Prof. António Teodoro, em cujas instalações em Lisboa se realizou a conferência, de 18 a 20 Setembro 2003.