1. A visita oficial a Portugal do presidente de Angola caracterizou-se pela sua componente meramente económica. E como José Eduardo dos Santos nem sequer se fez acompanhar do seu ministro da Educação, não surpreende — mas estranha-se — que a língua comum não tenha integrado qualquer acordo ora oficializado. A língua comum e, nomeadamente, a questão da aplicação do Acordo Ortográfico no espaço da CPLP, onde Angola assume um papel decisivo… até pelo mais absoluto silêncio das autoridades de Luanda na matéria, até à data. Já para não falar da concretização — ou não, e quando, e como — do que foi anunciado, há menos de um ano, pelo primeiro-ministro português, José Sócrates, precisamente em Luanda: o envio de 200 professores para apoio do ensino secundário em Angola.
2. Se Portugal e Angola desvalorizam a língua que os une histórica e culturalmente nesta passagem de José Eduardo de Santos por Lisboa, o Brasil avança a todo o vapor. Prometido a seu tempo pela Academia Brasileira de Letras, aí está, com lançamento para o dia 19 do corrente mês de Março, a 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), com perto de 350 mil palavras, já actualizado com as novas regras do Acordo Ortográfico. Ver notícia desenvolvida aqui (e também aqui), nomeadamente os critérios adoptados nos diversos pontos omissos, ambíguos ou menos consensuais decorrentes do texto oficial de 1990. São os casos, entre muitos outros, da nova grafia das palavras compostas, com hífen ou sem hífen, ou das formas onomatopaicas.
3. «Este VOLP é a contribuição brasileira para a construção de um Vocabulário Ortográfico Comum, previsto no Acordo», crê o linguista Godofredo de Oliveira Neto, presidente da Comissão Científica do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, a entidade responsável pela articulação da reforma do português escrito. Resta saber se Portugal, Angola e os demais parceiros do Brasil na CPLP unirão ou não esforços — e os meios indispensáveis — nesse sentido.