A frase apresentada pela consulente – «eles admiravam a forma como o herói pegava no bastão» – é prova, de facto, de um caso invulgar a nível da classificação das orações, porque nos vemos confrontados com a presença do conector como, que, vulgarmente, introduz orações subordinadas comparativas e orações subordinadas causais.
Depressa nos apercebemos de que como não se enquadra em qualquer uma dessas hipóteses, o que nos coloca numa situação difícil, até porque este tipo de frases não é, geralmente, tratado na maior parte das gramáticas.
Para além desta questão, deparamo-nos, nessa frase, com a presença do verbo admirar que, como verbo psicológico, se «constrói com um objecto directo nominal» (Maria Helena Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, 6.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003, p. 607), o que nos poderia levar a partir do princípio de que implicaria uma oração subordinada completiva ou integrante. Mas a realidade aqui é diferente da prevista pela lingu[ü]ista, que pressupunha uma frase do tipo – «Eles admiravam como o herói pegava no bastão». Assim, a 1.ª oração – «eles admiravam» – seria a subordinante, e a 2.ª – «como o herói pegava no bastão» –, como objecto directo da oração subordinante, seria uma oração subordinada completiva ou integrante.
Mas, na frase apresentada, a divisão terá de ter diferente:
1.ª oração – «Eles admiravam a forma» – oração subordinante
Análise sintáctica:
Sujeito – «eles»
Predicado – «admiravam a forma»
Predicado simples (verbo) – «admiravam»
Complemento/objecto directo – «a forma»
2.ª oração – «como o herói pegava no bastão» – oração subordinada relativa
Esta oração classifica-se como subordinada relativa, apesar de não ser introduzida por nenhum dos constituintes relativos comuns (que, o qual, quem, quanto, onde, cujo), porque como é também considerado um «morfema relativo» (Mira Mateus et alli, ob. cit., p. 664), quando se encontra precedido de forma, modo e maneira, «antecedentes que requerem que o constituinte relativo tenha a forma como» (João Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1995, p. 303). Estes últimos linguistas alertam-nos para a particularidade destes casos – «que envolvem movimento relativo de constituintes com a função de complemento circunstancial de modo» (idem) – em que «a oração relativa fizer parte de um complemento de modo, o pronome parece poder assumir quer a forma «como» quer a forma neutra que (não precedida de preposição)» (idem).
Análise sintáctica da 2.ª oração:
Sujeito – «o herói»
Predicado – «pegava no bastão »
Predicado simples (verbo) – «pegava»
Complemento/objecto directo – «no bastão»
Pode parecer estranho propor que «no bastão» seja complemento/objecto directo, mas isso deve-se ao facto de o verbo pegar se poder construir com a preposição em, o que implica que o complemento directo seja regido dessa preposição. (Pilar Vásquez Cuesta e Maria Albertina Mendes da Luz, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Edições 70, 1980, p. 518).