Na língua portuguesa, a letra ç, que se escreve em algumas palavras antes de a, o, u, e o dígrafo ss correspondem ao mesmo som sibilante. É natural que haja alguma hesitação na grafia do topónimo árabe, por parte dos falantes do português, pois a pronúncia é a mesma quer se escreva «Baçorá» quer se escreva «Bassorá».
De acordo com o Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, publicado pela Academia das Ciências de Lisboa em 1970, a grafia correcta é Baçorá. Esta indicação vem, segundo creio, no seguimento de uma outra, originalmente estipulada pela Academia Brasileira de Letras, na Reforma Ortográfica de 1943, que diz que em vocábulos originários de línguas ágrafas (sem escrita) ou de línguas que não usem o alfabeto latino (casos do árabe, grego, russo, hebraico, japonês, etc.) se deve escrever ç e não ss.
É de referir que existem, na nossa ortografia, muitas palavras de origem árabe grafadas com a letra ç, como por exemplo:
– açafate < do árabe as-sáfat
– açúcar < do árabe as-sukkar
– açude < do árabe as-sudd
A propósito de Kuwait, outro topónimo árabe, o “Acordo Ortográfico de 1990”, não ratificado, diz:
«As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados:
Kwanza; Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;»
Esta grafia, "Kuwait", é também sancionada pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa.
Em relação a outros casos que podem suscitar hesitação, como Telavive/Tel Aviv, Abu Dabi/Abu Dhabi, julgo que se deve optar pelo aportuguesamento, preferindo as grafias Telavive e Abu Dabi. Esse procedimento está de acordo com aquilo que diz o Acordo Ortográfico de 1990:
«Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Justland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, por Munique; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc.».
Relativamente ao caso "Bagdad/Bagdade", é natural que as pessoas pronunciem uma vogal depois do segundo "d", tal como podem pronunciar uma vogal no final de palavras como David e Madrid. Esse é um facto que decorre das propriedades fonológicas do português, sendo independente da forma como se escrevem as palavras. Relativamente à grafia mais correcta, e tendo em conta os argumentos antes aduzidos, estou em crer que é Bagdade. Essa é, de qualquer modo, a forma indicada no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.