DÚVIDAS

Láser ou «Laser»

O acrónimo da língua inglesa, "laser", tem sido objecto de discussão nesta coluna, ao longo dos últimos anos. Como acrónimo, o plural forma-se com um apóstrofo e a letra "s", "laser's".

Se se pretende que o acrónimo passe a substantivo, nome de um objecto, então é desejável que se estabeleça uma regra, para a sua grafia e para a sua pronúncia em português.

Recentemente um dos vossos especialistas (T.A.) defendeu, que mantendo a pronúncia inglesa do acrónimo, se deveria escrever em português "lêiser". Mas porquê introduzir o acento circunflexo? O som "ei" não existe em português em palavras como "leite"?

Em 1997 outro dos vossos especialistas (F. V. P. da Fonseca) defendeu que se deveria manter uma grafia próxima da original "láser", com o plural "láseres". Aqui a pronúncia modificar-se-ia perdendo-se o som "ei" do acrónimo inglês.

No dicionário de português da Porto Editora, disponível na rede de computadores ("on-line"), o substantivo aparece referenciado como "laser".

Como professor gostaria de influenciar, através dos meus alunos, o estabelecimento de uma grafia e de uma pronúncia única, em português, para esta palavra. Pode a Sociedade de Língua Portuguesa estabelecer uma regra para esta palavra?

Resposta

Não é fácil de responder à sua pertinente pergunta.

Podemos adoptar/adotar, as seguintes atitudes:

1. Considerarmos uma mera sigla, e grafarmos como tal: LASER, plural os LASER (nunca LASER´s).
2. Aportuguesarmos o acrónimo/acrônimo. E temos três soluções:
a) Escrevermos láser, plural láseres; solução que também tem sido adoptada/adotada nos meus livros. A pronúncia ¦lá¦, porém, altera a pronúncia original e pode haver relutância em correr o risco de passar por ignorante, neste país pouco respeitador das pessoas que dominam mal as línguas estrangeiras.
b) Adoptarmos/adotarmos o acrónimo/acrônimo sem o acento; e a pronúncia tenderia a ser ¦lazêr¦, plural laseres ¦lazêres¦ (nunca «lasers», pois um acrónimo/acrônimo da língua portuguesa tem de obedecer às regras da língua), o que implicaria uma associação fónica/fônica pouco conveniente. Note-se que alguns dicionários recomendam pronúncias estranhas para a língua, como em chauvinismo ¦chô¦, freudismo ¦frói¦, etc., e poderia defender-se, também, a pronúncia ¦lêizer¦ para um acrónimo/acrônimo português `laser´. Mas, nos dois casos atrás apontados, sempre há a desculpa de serem palavras derivadas de nomes `próprios´ estrangeiros, assim escritos como mandam as normas (embora, nem nos nomes próprios, nada nos obrigue a pronunciar essas palavras com pronúncia estrangeira; pois, do meu ponto de vista, poderiam perfeitamente pronunciar-se: ¦cháu¦, ¦frêu¦, etc…).
c) Alterarmos a grafia e passarmos a escrever «lêiser» (e com acento para não se ler ¦leizêr¦), o que estaria de acordo com a pronúncia. Mas esta solução repugna-me, porque assim violentamos a estrutura da sigla LASER.
3. Considerarmos um acrónimo/acrônimo de língua estrangeira e grafarmos entre aspas: «laser»/«lasers», pronúncia ¦lei¦.
A minha opinião pessoal continua a ser que se adopte/adote `láser´. Compreendo, porém que há dificuldade em generalizar a pronúncia respectiva/respetiva, e, assim, não me repugna aceitar igualmente a grafia estrangeira «laser», entre aspas e com a pronúncia de origem (aliás uma solução geral alternativa que tenho recomendado, sempre que o aportuguesamento não é fácil ou não é conveniente).

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa