Rodrigo de Sá Nogueira no seu «Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem» diz, na entrada De modo nenhum. De modo algum, o seguinte: «'As línguas são o que são e não o que deveriam ser'. Este é um princípio de que não deve procurar fugir quem se propõe tratar dos factos da linguagem. – Outro princípio há a que temos de nos subordinar, e que está na base do anterior: é o de que 'o uso faz lei'. – Ainda outro princípio podemos formular: é o de que 'na formação e na evolução das línguas, a lógica nem sempre impera'. – Vejamos como, na prática, as duas expressões da epígrafe demonstram o que fica dito pela análise dos seguintes exemplos: 'Pensas abdicar dos teus direitos?'. 'De modo nenhum!' ou 'De modo algum!', responde-se indiferentemente no falar normal. Estas duas fórmulas são corrente e indiferentemente usadas; são ambas do uso geral; são ambas factos consumados da língua; são, portanto, ambas correctas!, se bem que, sob o aspecto da lógica gramatical, elas sejam contraditórias. Vejamos: – Tanto faz dizer 'de modo nenhum' como de 'nenhum modo'; mas já não acontece o mesmo com 'de modo algum' e 'de algum modo'. – Querendo dizer que 'não estou disposto a abdicar dos meus direitos', é lógico gramaticalmente dizer 'de nenhum modo' ou 'de modo nenhum abdicarei dos meus direitos'. Dizer, porém, 'de algum modo' ou 'de modo algum abdicarei dos meus direitos', perante a lógica gramatical só poderá significar, salvo melhor juízo, 'que estou disposto a abdicar dos meus direitos'. Contudo, porque são certos os princípios acima enunciados, temos que, à pergunta 'Pensas abdicar dos teus direitos?', se respondo 'de modo algum', digo 'não abdicarei'. Respondendo 'de modo nenhum' ou 'de nenhum modo', também digo que 'não abdicarei dos meus direitos'. Respondendo 'de algum modo', digo que 'abdicarei dos meus direitos'.»
O «Dicionário de Questões Vernáculas» de Napoleão Mendes de Almeida, na entrada Algum, afirma: «Pode-se, com toda a segurança, empregar algum com o sentido de nenhum, quando algum vier posposto a substantivo em orações negativas: Não vi coisa alguma.
«Vasco Botelho de Amaral, em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, é incisivo: 'Posposto ao substantivo com valor negativo, encontra-se em Vieira, Bernardes, Camões. E – acrescenta esse autor – hoje pode admitir-se também quando precede o verbo e ocorre a supressão do advérbio negativo, ficando o sentido concentrado no indefinido: Em caso algum consentirei (= Em nenhum caso consentirei)'. (…).»