«Não é fácil encontrar emprego ou trabalho hoje em dia [em Portugal]» - diz Wilton Fonseca, a propósito da presença maciça de anglicismos nos anúncios de ofertas de trabalho (crónica original publicada no jornal português i).
Anúncio no Público: «Web designer/front-end developer/ Web designer com experiência em design de interfaces digitais e na produção de HTML, CSS e Javascript/Domínio de standards recentes (HTML5, CSS3) e técnicas de responsive design em suporte cross-browser/Valorizado: experiência em design de interfaces móveis.» São 41 palavras. Se retirássemos as 20 em inglês “técnico” (o pesadelo do Dr. Sócrates), o anúncio diria: «... com experiência em … de … digitais e na produção de … domínio de … recentes ... e técnicas de … e também experiência em ... Valorizado: experiência em … para … móveis.»
Se houver candidatos para tão reduzido número de preposições e substantivos portugueses, que concorram. Boa sorte! Não é fácil encontrar emprego ou trabalho hoje em dia.
Pelo andar da carroça, ainda vamos ver as pessoas de dicionário em punho a tentar decifrar os anúncios e a publicidade que nos são enfiados pelos olhos e ouvidos abaixo, nas mais variadas línguas. É uma guerra que o português já perdeu.
É disto exemplo um suplemento que o Expresso oferece todas as semanas, leitura obrigatória para quem esteja farto de viver à custa da família ou do desemprego. Ali surgem “notícias” com títulos como "Crowdfunding dinamiza doce negócio” ou “Jovens não valorizam o poder das soft skills”, ao lado de “oportunidades” do género “quality and food safety technician” e “procurement and purchasing administrative”. O trabalho aí está, para quem quiser! A taxa de desemprego até tem diminuído...
crónica publicada em 23/01/2014 no jornal i, com o título "BOa sorte!"