Uma reflexão a propósito dos "trambolhões" do jornalismo em Portugal.
Grandes, sucessivos trambolhões, são o que se vê. Os jornalistas "políticos" perdem-se nas iniciativas partidárias e não oferecem ao público uma leitura segura da segura coroação; os jornalistas "económicos", por seu turno, saltitam atrás da troika, entrevistam banqueiros e espanta-os que ninguém tenha tido a ideia de examinar os relatórios e as contas das empresas públicas, onde com toda a certeza os estragos dos swaps são reflectidos. O panorama parece catastrófico? Nem tanto. Chego a agradecer aos céus por não haver mais criatividade na classe. Imaginem se todos os jornalistas começassem a fazer directos como aquele que a RTP exibiu no 25 de Abril: um desnorteado repórter à solta em pleno Camões, a tentar em vão agarrar alguém que lhe desse a esmola de uma declaração. Ofegante, confessou, antes de entregar os pontos:"Não é fácil!" Não houve uma alma caridosa na sua redacção que lhe dissesse que os directos devem ser preparados. Igualmente patético foi o que se viu quando a mesma estação pública anunciou o afastamento do seu patrão, o Dr. Relvas. Afirmou-se, na altura, que o ministro afastado era "um dos principais braços direitos de Passos Coelho", elevando-se assim o PM à condição de divindade indiana, uma espécie de Shiva de S. Bento, dotado de muitos braços direitos (e esquerdos). Garantiu-se também que o afastamento ia " de encontro" àquilo que se esperava. O embate foi grande, estrondoso, um grande trambolhão! Digno de um país de empresas públicas descontroladas.