Redondilha - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Redondilha


Por baixo da superfície
lisa de cada palavra
por dentro da fenda sísmica
da gramática onde fulgura
o magma (sintaxe mágica)
de Babilónia a Sião.

Entre o étimo e o sintagma
no avesso desse centro
onde há uma estrela caída
para dentro do oculto
relação irrevelada
entre o corpo e a palavra.

Onde o invisível tremor
da terra percorre o sangue
e então de súbito a flauta
onde só Camões é quem
sobre esses rios que vão 
entre ninguém e ninguém.

 

Fonte
Com que Pena – Vinte Poemas para Camões, Lisboa, Dom Quixote, 1992

Sobre o autor

Manuel Alegre, natural de Águeda, onde nasceu em 1936, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi dirigente estudantil. Até 2 de Maio de 1974, viveu em Paris e mais tarde em Argel, onde foi locutor da emissora Voz da Liberdade. Conhecido pela atividade política, tem-se dedicado também à produção literária, com incidência particular na poesia. Em 1999, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.