Com as minhas mãos calejadas e fortes
aprendi a trabalhar novos materiais:
depois da pedra veio o bronze,
depois da madeira o aço, o barro e o ouro.
Eu não parava de crescer
em tudo aquilo que aprendia,
eu não parava de me deslumbrar
com tudo aquilo que descobria
e ainda me faltava aprender
tanta, tanta coisa. Um dia
disse para comigo: "O que aprenderes
também deves ensinar",
e foi assim que fiz dos filhos
meus alunos e dos alunos
meus herdeiros. Ensinei-os
a usar o fogo, a erguer a cabana,
a construir a embarcação, a fazer a sementeira,
a colher os astros, a amar a natureza,
a acreditar no sonho, a falar
com os pássaros e com os rios,
a decifrar as vozes do vento e do trovão.
Fiz da terra ampla e livre
a escola em que aprendi e ensinei.
E um dia disse: "É preciso deixar sinal
de tudo aquilo que já sei."
Olhei de novo para as minhas mãos
e pedi-lhes, a elas e ao pensamento,
um novo e derradeiro esforço:
foi assim que inventei a palavra "escrita",
primeiro com imagens, por fim com letras.
O que eu já tinha caminhado,
por veredas íngremes e por estradas largas,
até chegar ali: o fascínio de uma palavra
erguida com tinta negra
sobre papiro, sobre pergaminho, sobre papel.