Luís Fernando Veríssimo (1936 — 2025) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luís Fernando Veríssimo (1936 — 2025)
Luís Fernando Veríssimo (1936 — 2025)
6K

Luís Fernando Veríssimo (1936-2025) foi um escritor brasileiro nascido em Porto Alegre, em 1936. Conhecido pelas crónicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, destaca-se  também  como cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e como romancista. Uma obra caracterizada pela representação de questões sociais e políticas de maneira coloquial, cómica e irónica. Alguns dos seus principais livros são, entre outros da sua vasta obra literáriaEd Mort e outras histórias (1979), O analista de Bagé (1981) e O Melhor das Comédias da Vida Privada (1994).

Assinalando os seus 80 anos, foi lançado no Brasil o documentário Veríssimo, dirigido por Angelo Defanti, responsável por O clube dos anjos (2022), adaptação do livro homónimo de 1998 do escritor gaúcho.

 

Cf. Luís Fernando Veríssimo, um dos maiores escritores do Brasil, morre aos 88 anos + O adeus do mestre do humor Luís Fernando Veríssimo: «A morte é uma sacanagem. Sou cada vez mais contra» + Luís Fernando Veríssimo, o artista que retratou o Brasil + L.F. Veríssimo, o Analista do Brasil «Traduzia o Brasil com amor e sensibilidade»: famosos lamentam morte de Luís Fernando Veríssimo  + Sexo na cabeça As frases icónicas de Luís Fernando Veríssimo

 

 
Textos publicados pelo autor
<i>Transbording</i>

O uso e o abuso de termos em inglês em registo de puro pedantismo social – que não só nalguns estratos mais urbanos da sociedade brasileira  na ironia, sempre fina, do autor, na sua coluna semanal do jornal O Globo, de 21 de maio de 2015.

 

 

Triste o país que tem vergonha da própria língua.

Fico pensando num corretor de imóveis tendo que mostrar, para compradores em potencial, um apartamento no edifício Golden Tower, ou similar, em algum lugar do Brasil.

— Isto é o que nos chamamos de entrance.

«Existe até um nome para o uso excessivo do gerúndio: endorreia», escreve Luís Fernando Veríssimo, em crónica publicada no “Actual” do semanário “Expresso”, de 2  Agosto de 2008, intitulada “A matutar”. E propõe-nos «um dicionário alternativo da língua portuguesa, não com o significado que as palavras têm mas com o significado que deveriam ter»...

 

«- Pai…
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.»

Crónica  do escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo (1936 — 2025) , transcrita,  com a devida vénia, do livro Comédias para se Ler na Escola, Publicações Dom Quixote, 2002, Lisboa.

Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A p...