Aclaração, aclaramento, clarificação ou clarificamento; e birra, irrevogável ou não. Seis palavras, e alguma confusão à volta delas, nesta crónica do autor na sua coluna semanal do jornal i, do dia 12 de junho de 2014. Pretexto: um assunto da atualidade política em Portugal e o "pedido de aclaração", logo depois corrigido para pedido de "clarificação técnica" do primeiro-ministro português a um acórdão do Tribunal Constitucional, chumbando quatro medidas previstas no Orçamento de Estado de 2014.
Por causa de uma «aclaração», o PM [português] faz birra e não vai ao Brasil. Todos temos muita pena. O assunto preocupa-nos mais do que o joelho esquerdo do Ronaldo. Se tivesse previsto a possibilidade de tão importante ausência (a de Passos Coelho, e não a do Ronaldo) no jogo inaugural da selecção, o TC [Tribunal Constitucional] teria com certeza produzido outros pareceres e o assunto teria ficado arrumado. Sem necessidade de aclaração, aclaramento, clarificação ou clarificamento. E sem birra.
Aclarar significa tornar claro, tornar evidente, dar ou receber luz, dar ou adquirir claridade, clarear, iluminar, esclarecer. Significa também branquear, solucionar, elucidar, limpar.
Clarificar é sobretudo assunto químico: purificar, tornar um líquido isento de impurezas ou límpido. Vem do latim "clarificare", que significa «tornar ilustre». Por extensão, é tornar ou ficar mais compreensível, mais claro.
Para o contribuinte, as decisões do TC pareceram claras e límpidas. A solução seria fazer novamente as contas e tomar juízo. Mas para alguns são motivo de birras, de ameaças do género «agarrem-me senão ele é um homem morto» ou de teatro («o meu reino por uma aclaração!»). Como as crianças que se atiram ao chão, aos gritos, por um gelado ou um brinquedo.
Quando há um ano [Paulo] Portas fez a sua monumental birra do irrevogável, aprendemos que birra, entre muitas outras coisas, é «o vício que têm certas cavalgaduras de ferrarem os dentes em qualquer objecto, particularmente na manjedoura». Está nos dicionários: é um vício.