Lagrimar, lacrimar, lagrimejar ou lacrimejar? Todas as opções são possíveis na língua portuguesa, havendo variedades que preferem umas a outras, mas sem que nenhum desses verbos esteja incorreto, como recorda Edno Pimentel em crónica publicada em 14/11/2013 na sua coluna "Professor Ferrão", do semanário angolano Nova Gazeta.
Parece ser de família. O pai, a mãe e os avós usam óculos desde muito cedo. Aos oito anos e a frequentar a terceira classe, deu-se conta de que o menino também terá, muito provavelmente, de usar óculos.
A irmã mais velha, de 11 anos, não suporta a ideia de constantemente ser chamada de "quatro-olhos". Pena que não tenha opção e tem mesmo de usá-los, porque é míope e sempre que tenta desfazer-se dos óculos, tropeça, não enxerga em condições as matérias no quadro e, muitas vezes, lagrima.
Há alguns dias, a professora notou que o menino não transcreve a matéria para o caderno nem lê o que está no quadro. «Ele apenas lagrima. Ninguém bate nele, simplesmente lagrima», explica a professora aos pais do aluno.
«Mas em casa, ele não é assim. Escreve bem, sem qualquer problema. Mas é verdade que às vezes lagrima», diz a mãe.
Por isso, aconselha a professora, devem levá-lo ao oftalmologista e parece que mais um vai juntar-se ao clube dos óculos. «Acho que depois da consulta, tudo vai voltar à normalidade e vai deixar de lagrimar», acredita.
Enquanto pais, e porque compreendemos que alguns problemas são de fórum genético, como a miopia, devemos ter o cuidado com os meninos que, pela própria idade, não conseguem ainda perceber o porquê de certas coisas que têm que ver com as suas origens.
«Será que outras pessoas que usam óculos também lagrimam?», pergunta a menina à professora do irmão.
«Nem todos lagrimam, minha querida. Uns lacrimam, outros lagrimejam…»
«Tem razão, senhora professora. O meu médico, que é português, por exemplo, disse que eu só voltaria a lacrimejar se não usasse os óculos. Já o médico da minha filha, que é angolano, disse que ela vai lagrimar algumas vezes mesmo quando ela estiver a usar os óculos.»
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, publicado em 14 de novembro de 2013 na coluna do autor, "Professor Ferrão". Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.