A preocupação de uma ama por a menina só querer fazer «pum pum» na fralda. E se é «de pequeno que se torce o pepino», melhor seria que a ama pudesse contribuir, também, com outros ensinamentos para o bom comportamento sobre a língua — escreve-se nesta crónica publicada pelo autor na sua coluna, Professor Ferrão, no semanário angolano Nova Gazeta, de 1/08/2013.
Tem dois anos apenas, mas parece ter muito mais. As tias mal conseguem contrariá-la, e só o que ela coloca na cabeça é o que deve ser feito. Algumas manias e caprichos são atendidos, como ouvir música no iPad das tias, ver televisão com o controlo remoto só para ela, devorar três iogurtes quando deveria comer apenas um e dormir no cadeirão da sala em frente à televisão.
Mas tem alguns que tiram até a própria mãe do sério. «Pum pum» só na fralda. Ela prefere ficar o dia todo apertada a fazer no bacio, no qual, voluntariamente, faz chichi. «Fralda, fralda», exige a menina já muito aflita. «Está aqui o bacio, faz aqui no bacio, nené», roga a ama que queria poupar a última fralda que restava naquele dia.
Sem saber o que fazer, a senhora liga para a mãe da menina e explica o que se estava a passar. «Conversa bem com ela, talvez consigas convencê-la», sugere a mãe. «Eu já tentei, mana. Ela não quero», esclarece a ama. E a menina insistia que só faria na fralda.
Para a ama, os pais tinham de ser mais «rigorosos», porque, se assim continuasse, com muitos mimos, a menina poderia ter maus hábitos e, depois, nem os próprios pais conseguiriam resolver o problema.
Os pais sabem que a flexibilidade tinha de ter limites, mas também sabiam que era questão de tempo e de alguma paciência. «Ela tem apenas dois anitos», lembra o pai. «O meu pai ensinou-me que é de pequeno que se torce o pepino. Ela tem de começar a aprender já essas coisas básicas, porque, quando for à creche, poderá ter muitos problemas», alerta a ama, insistindo que a «menina não pode fazer só o que ela quero».
A sua preocupação era, em certa medida, compreensível, porque muitas amas na creche não são pacientes para trocar fraldas às crianças. «Se for já preparada, melhor.»
Melhor também será se a ama puder ensinar outras coisas à menina, como falar correctamente, através de canções infantis, que, quando bem compostas, transmitem uma boa mensagem e um bom comportamento sobre a língua. Não trata de querer ou não, mas de aprender, por exemplo, que quero é a forma correspondente à primeira pessoa do singular eu. Quer queira quer não, aprenderá que, quando se tratar de ela, deverá seleccionar quer.
Com o tempo, saberá que os pais não lhe vão poder dar tudo o que ela quer, quando ela quer e do modo que ela quiser.
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, publicado em 1 de agosto de 2013 na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.