Wilton Fonseca comenta o resultado de uma pesquisa elaborada a partir da base de dados do conhecido motor de busca Google acerca dos vocábulos usados com mais frequência nos últimos quinhentos anos em publicações de língua inglesa.
Um interessante artigo de David Brooks, no NY Times, comenta uma série de pesquisas feitas nos Estados Unidos a partir de uma base de dados criada pela Google. A base engloba 5,2 milhões de livros publicados entre 1500 e 2008. Permite determinar o número de vezes e a época em que uma palavra ou expressão surge nas obras escritas em inglês. Por exemplo, "cocaína" aparece com extraordinária frequência na Inglaterra vitoriana, cai em desuso a partir dos anos 20 do século XX e reaparece meio século mais tarde.
Com este tipo de investigação é possível escrever uma história dos últimos séculos, principalmente dos séculos XIX e XX, que conheceram uma actividade literária e editorial sem precedentes. Torna-se possível detectar algumas das mais marcantes características contemporâneas, como o crescimento do individualismo em detrimento dos elementos comunitários e sociais. Na última metade do século XX, palavras e expressões como "pessoal", "personalizado", "próprio", "único", "prioridade", "individual" e "eu próprio" foram utilizadas com mais frequência do que "comunidade", "colectivo", "partilha", "solidariedade" ou "bem comum". Da mesma forma, conceitos e atitudes morais como "decência", "virtude" e "consciência" foram menos utilizados, assim como "modéstia" e "humildade", que quase desapareceram do uso corrente.
Estendido a outras línguas, este tipo de pesquisa certamente comprovaria que o vocabulário que utilizamos é o melhor espelho das nossas vidas. Nós somos o nosso vocabulário.
In jornal i, de 6 de junho de 2013, na crónica semanal do autor, "Ponto do i", com o título original "Vocabulário". Respeitou-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.