Sobre os complementos oblíquos e as preposições
Prosseguindo a nossa reflexão e a nossa partilha, hoje vamos falar de «o complemento oblíquo e as preposições».
Outro filho bastardo do tratamento fragmentário da comunicação linguística é o complemento que, pela abordagem enviesada de que é vítima, só podia mesmo ser oblíquo.
Consideremos a sua versão preposicional.Numa perspetiva sistémica, as preposições, que supostamente o introduzem (supostamente preposições e supostamente introdutoras), não são mais nem menos que conetores de predicado, entre o predicador e o nome ou a expressão que se segue, construindo uma unidade de sentido. Temos, assim, numa visão integrada, conetores de narrativa/texto (… em primeiro lugar… no dia seguinte … lá chegados … concluindo e resumindo …), conetores de oração (conjunções) e conetores de predicado (apelidados de preposições, mas que não são preposições, nem posposições, mas sim interposições, se quisermos entender-nos nesta nomenclatura espacial, muito do agrado das gramáticas que por aí andam, mas pouco adequada à natureza semântica da comunicação verbal). Diz-nos a lógica, e até a intuição, que a coesão linguística não pode terminar na relação das frases/orações entre si, pela simples razão de que as relações semânticas prosseguem no interior de cada uma. Não podemos alterar o modelo de análise a meio do processo, sob pena de não atingirmos o objetivo. Na matemática, isso é claro e ninguém contesta: no meio de um cálculo, ninguém muda a unidade de medida…
Vejamos:
- Ir a Braga
- Ir ao cinema
- Ir de carro
- Ir à boleia
- Ir a pé
- Ir de pé
- Ir de palhaço
- Ir a gosto
- Ir ao médico
- Ir à fonte
- Ir à…
Complemento?!... Oblíquo??!!... Não! Trata-se de algo muito mais central, muito mais íntimo, muito mais necessário à constituição do predicado! Relativamente ao velhinho e gasto complemento circunstancial, foi pior a emenda que o soneto!
