Repreensão ao Ciberdúvidas
O Ciberdúvidas é um instrumento que descobri e conheço há vários anos, e ao qual recorro com proveito, sempre que uma dúvida a respeito da língua (seja morfológica, sintáctica ou a nível de locuções) me surge no meu percurso de escrita.
Todavia, ultimamente, assiste-se a um crescendo de má-fé, por insistir numa mesquinha "campanha" contra o jornal "Público" – «jornal que faz do Acordo Ortográfico o pior que aconteceu à língua portuguesa», como se lê na publicação de José Mário Costa (J.M.C.), intitulada «Uma moral fortemente abalada», na qual o autor comenta um erro de concordância com a palavra moral, cometido em Editorial deste jornal.
O comentário poderia, com efeito, ter-se ficado pela sinalização do erro, acompanhada pela explanação dos dois lemas vocabulares moral, um do género masculino e outro do feminino. Uma coisa é dar conta de erros cometidos com uma intenção didáctica, procurando com isso fomentar o correcto uso da língua portuguesa, e o esclarecimento dos seus falantes e escritores. Este é o objectivo do portal.
Todavia, J.M.C. seguiu por outro percurso: denegrir algo ou alguém que tem sobre um assunto opinião diversa da nossa. O Ciberdúvidas, dando provas de tremenda, infantil mesquinhez, optou pela segunda via. Deixou de ser científico e pedagógico, para, a partir de um único erro, um único, pôr em causa o todo de um jornal prestigiado e um dos diários generalistas preferidos dos Portugueses. Para lançar um ataque ser se colocar ao serviço do mais soez panfletarismo e dando curso ao mais reles espírito de vingança.
A firme e democrática posição do "Público" em prol da qualidade e da estabilidade do sistema ortográfico claramente perturba o Ciberdúvidas e, mormente, J.M.C. – o qual exibe incompreensível animadversão pelo referido jornal.
Ao mesmo tempo que verbera e zurze o "Público", o Ciberdúvidas – numa prova de grotesca parcialidade – não faz qualquer referência aos barbarismos que o Expresso e outros meios e entidades que - supostamente - grafam segundo o AOLP90. Não se ouve nem se lê uma palavra no Ciberdúvidas acerca dos *patos (por pactos), *impatos (por impactos) *compatos (por compactos), *adetos (por adeptos), *fatos (por factos), *factos (por fatos), *contatos (por contactos), *adatações (por adaptações), *conveções (por convecções), *retos (por reptos), *fição (por ficção), *seção (por secção) - et caetera et ad nauseam -, com que o Diário da República, CPLP, a Administração Pública, a Lusa, o "Expresso", o "DN", o "Record", "A Bola" e outros "abrilhantam" a língua portuguesa.
Vergonha, Ciberdúvidas! Contemplem o resultado de uma reforma "ortográfica" deficiente, lançada sem preparação adequada e sem instrumentos de suporte. Abram os olhos, abandonem a vossa mesquinha e cega parcialidade e vejam o estado de choldra ortográfica que se vive em Portugal.
Porque é de vergonha que se trata, e de violação dos propósitos do portal. Pode o Ciberdúvidas escolher, conscientemente, "adotar" o Acordo Ortográfico, por razões que só pode justificar cientificamente. Mas deve prestar-se ao esclarecimento, da serenidade científica, aberta à exposição dos vários de vista, mesmo que não coincidentes com os seus "oficiais". Não pode é prestar-se àquilo que, pela pena de J.M.C., fez: o comentário ideológico, censório, inquisitorial, como se defendesse um dogma, a invectiva ad hominem.
Merece, por isso, esta repreensão, aconselhando-se a que mude de atitude.
N.B. – Em defesa da Língua Portuguesa o remetente não adopta o Acordo Ortográfico de 1990 por este ser incoerente, inconsistente e inconstitucional, além de, comprovadamente, estar a promover a iliteracia em publicações oficiais, na imprensa e na população em geral.
