Peço desculpa pela minha presunção de que tal polémica tivesse atingido tão grandes proporções. Naturalmente exagerei quando lhe chamei polémica. Foi apenas uma troca de opiniões entre leitores do referido jornal (e também um colaborador habitual) que se prolongou por uma ou duas semanas e que foi despoletada por um cartaz de propaganda do PSD aquando das eleições legislativas de 95. Não me recordo da frase presente no referido cartaz, mas tenho perfeitamente presente a questão e as dúvidas que suscitou. Tratava-se de saber se o porque interrogativo se deveria escrever junto ou separado, isto é, se se deveria escrever, por exemplo, "Porque foi ele a Lisboa?" ou "Por que foi ele a Lisboa?". No decorrer da polémica (aqui, sim, posso utilizar o termo) que se instalou no meu local de trabalho, quando me foi pedida uma opinião, e sem previamente me ter documentado sobre o assunto, afirmei simplesmente que nos meus textos sempre me lembrava de ter utilizado a forma separada, explicando que a expressão tinha implícita a ideia de "por que razão/motivo", isto é, "qual a razão/o motivo pela(o) qual". Posteriormente, consultei alguns autores (romancistas e poetas clássicos, românticos e contemporâneos e para meu espanto verifiquei que quase todos grafavam "porque"; se bem me lembro, apenas Saramago escrevia "por que". Por outro lado, Lindley Cintra na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo apenas menciona a forma "por que?" quando se refere aos advérbios interrogativos de causa (pág. 539), exemplificando com as frases: "Por que não vieste à festa?" e "Não sei por que não vieste à festa".
O problema não é crucial, nem mesmo em termos linguísticos se poderá dizer que é uma questão importante, mas já agora gostava de ter mais uma opinião, que desde já agradeço!
Luís A. P. Varela Pinto
Portugal
Na frase "Porque foi ele a Lisboa?", o porque é uma só palavra por ser um advérbio. É advérbio interrogativo. Não se separa.
Antigamente, ensinava-se que, em frases como esta, havia duas palavras (por que), visto que se subentendiam palavras como razão, motivo ou qualquer outra. Depende da frase. Portanto: "Por que (razão) foi ele a Lisboa?"
Esta grafia data do acordo entre Portugal e Brasil em 1945. Os brasileiros, porém, continuaram a escrever por que. Não admira, pois, que a gramática de Lindley Cintra ensine por que, visto ela ser fundamentalmente a do brasileiro Celso Cunha com alguns acrescentos de Lindley Cintra.
Cf. Porque/por que, mais uma vez + Porque, por que e porquê
José Neves Henriques
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