Algumas das emissões da TV Cabo de Portugal tocam as raias do escândalo, "português falando". E escrito.
É evidente que, nada sendo perfeito neste baixo mundo, outros defeitos poderia apontar. Porém, não o farei, justamente por considerar que a perfeição é inatingível. Todavia, no que toca às programações da empresa que se auto denomina «Multicanal», é-me impossível calar por mais tempo o incómodo e, permitam-me que acrescente, a indignação.
Passo por alto o ritmo alucinante com que o «Canal Hollywood» repete os filmes que transmite, embora já me seja difícil encontrar nesse canal um só filme que não tenha nele passado umas cinco a dez vezes no reduzido espaço de uma semana... O que não posso passar por alto são as anomalias - claro fruto de uma incompetência que não cessa de maravilhar-me - que se verificam na legendagem. Todos os dias as legendas portuguesas surgem trocadas, ou repetidas, ou atrasadas ou adiantadas. Já sucedeu até aparecerem, sobre o próprio «logotipo» do canal, legendas que pertenciam ao filme que ia seguir-se - ou ao que acabava de ser transmitido.
Todavia, este é ainda, e apesar de tudo (um «apesar» já grande, convenhamos), um pecado venial. Não é comparável a esse templo de asneira que dá pelo nome de Canal Odisseia.
O Canal Odisseia é, de facto, o ponto central desta minha reclamação "cibernética". Mais uma vez, passo algo por alto: agora, as péssimas vozes e dicção da maioria dos locutores que asseguram as traduções portuguesas. O que , julgo, é inaceitável e passível até de reclamação junto de quem de direito, é o facto de os donos dessas vozes, bem como os tradutores dos textos, serem enraizadamente analfabetos e assassinarem diariamente os próprios rudimentos da língua portuguesa.
Dou apenas três exemplos, recentemente colhidos.
Há escassas semanas, o «Odisseia» transmitiu um documentário sobre o Japão que se intitulava, no original inglês, "The Sword And The Crysanthem". Pois bem, o analfabeto de serviço para a locução "off" leu,solenemente, e repetiu, sistematicamente: «A Espada e o Crisantêmo».Não, não me enganei na grafia: ele disse mesmo «crisantêmo» em vez de crisântemo.
Mais recentemente, no mesmo Canal Odisseia, ouvi também um locutor de pseudoportuguês falar em «magnetófono», quando queria dizer gravador de som. E ainda ouvi pronunciar um «electromotor», quando o termo português é e sempre foi motor eléctrico. Acrescento que a introdução de neologismos, se é legítima, não cabe certamente aos locutores de televisão. Sobretudo ao género de locutores que não sabem o que é um crisântemo (...)
Evidentemente, sei que a TVCabo não é responsável por estas anomalias - que, no lamentabilíssimo caso do «Odisseia», se revestem das características de atentado à cultura e (o que é bem pior) de acção pedagogicamente venenosa. Mas enfim, é a TV Cabo que leva até aos lares portugueses, inocentemente embora, esta pervertida mensagem...
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