Vi o seguinte comentário de Carlos Reis:
«Da televisão, sobretudo. Há aspectos do português do Brasil em que leva vantagem sobre nós. Um deles é a articulação: um filme português passado no Brasil precisa de ser legendado e um brasileiro em Portugal não. Tão simples como isto. Porque os portugueses tendem a obscurecer a língua do ponto de vista articulatório, fonológico, de pronúncia. Engolem as palavras. O português do Brasil valoriza mais as vogais, os fonemas vocálicos, o que é uma vantagem para o bom entendimento. Temos de fazer um esforço de recuperar coisas que se perderam e isso só pode ser feito na escola, lendo expressivamente, obrigando a pronunciar bem as palavras todas. Mas a importância do Brasil neste cenário é evidente desde algum tempo. O Brasil apercebeu-se que a língua é um instrumento estratégico muito importante e o seu anúncio de criação de uma universidade para os países da CPLP no Nordeste não é inocente nem destituída de sentido político.»
Só pensa assim quem nunca viveu no Brasil. Eu pensava assim também...
Agora posso afirmar, sem me pesar na consciência algum preconceito mas baseado na experiência pura, que a variante brasileira tem os seus encantos estéticos mas não é eficiente na comunicação.
Trabalho em telemarketing com autócnes para o Brasil, Paraguai, Espanha e Portugal. Vejo as vezes que as pessoas repetem as frases, os números de telefone, os e-mails, etc.
Se a variante brasileira tem vantagens nas vogais, se perde totalmente nas consonantes e na redução da variedade de sons. Depois não usa de artefatos para articular as palavras umas depois das outras. O espanhol, melhor o castelhano, usa e as reflete na escrita (ou = "o" ou "u", e = "y" ou "e", a = "la" ou "el", etc). O português usa mas não as escreve («a(y)alma», «a agricultura» = "àgricultura", etc.) Estes artefatos podem parecer supérfluos mas são fundamentais para a agilidade de uma língua...
Vocês conseguem imaginar que "três (treis)" se confunde com "seis" no Brasil e que por isso eles dizem meia ao comunicar números de telefone, etc. Quando minha mulher, brasileira, me disse isso, eu não queria acreditar que essa era a razão...
Já pensaram que em português brasileiro (paulista melhor dizendo) desceste e disseste se pronuncia quase da mesma maneira? Agora comparem com o português de Portugal: não tem nada a ver uma com a outra. E como este, milhares de exemplos podia dar.
Sou a favor do acordo ortográfico, sou a favor da unicidade do português, mas não deixo de ver com constrangimento como os brasileiros se comunicam mal entre si. Posso afirmar, sem complexos, que os espanhóis e portugueses têm uma eficiência na comunicação muito maior... Tenho a esperança de que a variante brasileira evolua de forma a conservar as vantagens e se libertar das desvantagens, já que é uma variante muito nova e não cristalizada.
Como me custa admitir para mim mesmo que isto é verdade, mas é!
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