DÚVIDAS

Vogais: pronúncia

Li que as seguintes vogais formam sons diferentes, incluindo os sons tónicos e átonos. Aqui vão:
A:
página
altivo
papá
ama
antigo
ânfora
E:
véspera
notável
pêra
nave
vento
véspera
I:
tímido
pálido
funil?
simpático
zinco
O:
avó
futebol
avô
ontologia
ditongo
U:
último
mulato
cúmplice
umbigo
Semivogais:
pai
pau
pão
pães
O que perfaz um total de 29 ou 30 sons dependendo se o "I" em "funil" ficaria nesta classificacão ou não.
Se a língua portuguesa tem assim tantos sons vocais, porque é que não são aceites nas nossas gramáticas, uma vez que o máximo de vogais diferentes que consigo encontrar na mesma gramática são 16.
Há línguas que, ao menor timbre vocal, o som é reconhecido diferente. Parece que na língua portuguesa não há interesse para essas diferenças. Porque será?
Obrigado.

Resposta

Vamos por partes; o que sucede em Portugal (no Brasil há grandes diferenças):
A:
Os á das palavras citadas têm a mesma pronúncia e são tónicos e bem abertos.
Já em al, o a, por causa do l, pronuncia-se diferentemente; embora aberto, o seu ponto de articulação é mais recuado, o que lhe confere um som quase velar. Os a sem acento e finais de página, ama, da sílaba pa (em papá) e de ânfora são átonos e soam fechados, mais ou menos como o e final do alemão Reise ou o som vocálico final do inglês picture. O primeiro a de ama é praticamente igual, mas tónico. Em antigo e ânfora temos um a fechado (como o anterior) nasal, tónico na 2.ª palavra.
E:
Em véspera o 1.º e é aberto e tónico, e o segundo é atono e mudo (na realidade pode pronunciar-se, com um som semelhante ao do î (â) romeno, i (sem ponto) do turco, existente também nas línguas eslavas.
I:
O i das sílabas mi e li são os normais do português, bem como o de , com a diferença que este é tónico (mais forte). O i de funil é velarizado pelo l, como sucedia com o a de al. O i nasal de sim e de gin só diferem em que o segundo é tónico.
O:
Em avó o o é aberto e tónico, o mesmo sucedendo com o de futebol, que tem de diferente ser velarizado pelo l. O de avó é fechado e tónico, como também em ovo, p. ex. Os on das outras duas palavras são fechados igualmente, mas nasais, sendo ainda tónico o de ditongo.
U:
Em último o u é tónico e em mulato é átono. O o final vale de u átono, e ensurdece quando precedido de t ou outra consoante surda. Em cúmplice temos um u nasal tónico, e em umbigo o mesmo, porém átono.
Semivogais:
O i e o u de pai e pau, por serem os segundos elementos dos ditongos, são de facto mais fracos que os i e u acima mencionados.
Nos ditongos nasais de pão e pães, o o é quase igual ao u de pau (é levemente nasal), e o e assemelha-se ao i de pai, mas é também levemente nasalado.
Normalmente consideram-se em português europeu as seguintes vogais: a (aberto, fechado e nasal) = 3; e (aberto, fechado, mudo e nasal) = 4; i (oral ou nasal) = 2; o (aberto, fechado e nasal) = 3. Total: 12. Claro que o número sobe, se juntarmos as vogais velarizadas por l, i e u, semivogais e os ditongos nasais: ão, ãe (ou em, na preposição assim grafada), õe e ui (sem til, em mui e muito). Se entrarmos em pronúncias dialectais a coisa piora!
Os Portugueses acabam por dizer tudo certinho, sem darem por isso, e os estrangeiros também lá chegam, talvez com um pouco mais de trabalho!

 

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