No princípio era o Latim, «corrompido» pela fala da plebe, pelas línguas dos povos autóctones do Império (celtas, germanos, iberos) e pelos árabes depois da grande invasão so século VIII. Pelos tempos, o português continuou aberto aos estrangeirismos provindos do castelhano, do francês, do italiano, do chinês, das línguas africanas e índias. Quando hoje dizemos monge, chaminé, chapéu, palhaço, chá, ananás, piripiri, tomate, café, varanda, não nos lembramos que estas palavras foram dádivas que vieram enriquecer léxico português.
O problema não é, portanto, a importação das palavras. O problema é que o débito de estrangeirismos (neologismos) é de tal ordem que frequentemente se perdeu o norte e a norma.
a) Transístor é um anglicismo, tal com líder ou repórter, acentuado na penúltima sílaba por influência da palavra original inglesa. Penso que a sua pronúncia como palavra grave está já tão enraizada entre nós que será difícil convencer os lusófonos habitantes do rectângulo europeu (e das ilhas adjacentes) a acentuar transistor como calor ou favor. Lamento, mas não me parece que a tendência seja para a recuperação que preconiza. E J. P. Machado não é feliz nem infeliz na acentuação: é apenas rigoroso.
b) Quanto a laser: trata-se de um estrangeirismo ainda sentido como tal, por isso continua a escrever-se e pronunciar-se «à inglesa», com «a» em vez de «ei» e sem acento. O aportuguesamento da palavra daria qualquer coisa como «lêiser». Estranho, não é? Mas talvez lá se chegue um dia como chegámos a ecrã, abajur e futebol.