DÚVIDAS

Transistor/laser

Embora já exista em dicionários (J. P. Machado, por exemplo) o vocábulo "transístor", não me parece feliz a acentuação neste neologismo necessário.
Originalmente a palavra foi criada em língua inglesa como um acrónimo de "transfer resistor" e naturalmente pronunciada, em língua inglesa, como "tran-sís-tor" - palavra grave - do mesmo modo que, nessa língua, é pronunciado "pro-fé-ssor" - palavra grave - que em português todos(?) pronunciamos "pro-fe-ssôr" - palavra aguda -.
Assim, à semelhança de outras línguas, o "transistor" entrou na linguagem corrente como um novo vocábulo, devendo, dado tratar-se de um acrónimo, ser pronunciado de modo semelhante ao de palavras portuguesas foneticamente próximas considerando em particular a terminação, não tentando, como foi o caso, uma transcrição fonética da palavra como era pronunciada na língua original. (Suponho que ninguém pronunciará "rei-dar" pelo acrónimo, em língua inglesa, "radar" que passou a ser o vocábulo português "radar" pronunciado "ra-dar" - palavra aguda -).
Outro acrónimo, em língua inglesa, "laser" (Light Amplification Stimulated by Electromagnetic Radiation), já é suficientemente popular para que se tente estabilizar a grafia sem acento e a pronúncia que, neste caso, se mantém ligada à original -é de bom tom pronunciar "lei-zer" e não o português "la-zer".
Perguntas:
a) - Será possível recuperar o "transistor" - grafia original - com pronúncia portuguesa (soa, talvez, menos "científico")?
b) - Será possível assentar na pronúncia portuguesa da "laser"? (Ainda o não vi escrito com assento! Resistirá?)

Resposta

No princípio era o Latim, «corrompido» pela fala da plebe, pelas línguas dos povos autóctones do Império (celtas, germanos, iberos) e pelos árabes depois da grande invasão so século VIII. Pelos tempos, o português continuou aberto aos estrangeirismos provindos do castelhano, do francês, do italiano, do chinês, das línguas africanas e índias. Quando hoje dizemos monge, chaminé, chapéu, palhaço, chá, ananás, piripiri, tomate, café, varanda, não nos lembramos que estas palavras foram dádivas que vieram enriquecer léxico português.

O problema não é, portanto, a importação das palavras. O problema é que o débito de estrangeirismos (neologismos) é de tal ordem que frequentemente se perdeu o norte e a norma.

a) Transístor é um anglicismo, tal com líder ou repórter, acentuado na penúltima sílaba por influência da palavra original inglesa. Penso que a sua pronúncia como palavra grave está já tão enraizada entre nós que será difícil convencer os lusófonos habitantes do rectângulo europeu (e das ilhas adjacentes) a acentuar transistor como calor ou favor. Lamento, mas não me parece que a tendência seja para a recuperação que preconiza. E J. P. Machado não é feliz nem infeliz na acentuação: é apenas rigoroso.

b) Quanto a laser: trata-se de um estrangeirismo ainda sentido como tal, por isso continua a escrever-se e pronunciar-se «à inglesa», com «a» em vez de «ei» e sem acento. O aportuguesamento da palavra daria qualquer coisa como «lêiser». Estranho, não é? Mas talvez lá se chegue um dia como chegámos a ecrã, abajur e futebol.

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