DÚVIDAS

«Tidal»?!

O adjectivo inglês "tidal", construído a partir de "tide" (maré) é utilizado por alguns especialistas em Portugal como uma palavra portuguesa em compostos como "intertidal", "microtidal", "mesotidal", "macrotidal".
Isto dever-se-á provavelmente à aparente dificuldade de criar em português um adjectivo a partir do substantivo "maré", e ao facto de "tidal" se integrar facilmente no sistema morfo-sintáctico do português, muito embora nele apareça como um corpo estranho do ponto de vista semântico.
Um breve levantamento dos substantivos terminados em "é" em português levar-me-ia a considerar como possíveis os sufixos em "al", em "eiro" e, eventualmente, em "eico". Teríamos, assim, como possibilidades teóricas "mareal", "mareeiro" ou "mareico". Por razoes de concisao e eufonia, talvez fosse de excluir "mareeiro". Restar-nos-ia, assim, como adjectivo de maré, o adjectivo "mareal" ou "mareico". Que pensa o Ciberdúvidas deste problema?

Resposta

Tem muita razão! Tendo nós tradução perfeita do inglês «tide», maré, não se compreende que, a partir de maré, não façamos o mesmo que fazem os povos de língua inglesa com «tide»: formar derivados. Sim, concordamos com a adopção de mareal ou de mareico - aquela que parecer melhor pela eufonia e pelo significado. Mas é conveniente adoptar apenas uma das palavras. A língua não gosta de mais de uma palavra para expressar a mesma ideia. Por isso é que são raros os sinónimos perfeitíssimos.

A palavra «tidal» tem o grande inconveniente de não nos «falar» à compreensão, visto a palavra simples, «tide», nada nos dizer.

Adoptar desnecessariamente «tidal» significa não se ser já capaz de sentir a Língua Portuguesa e de mostrar grande falta de conhecimentos dela, da sua maleabilidade e das suas possibilidades. A Língua Portuguesa agradece haver aqui e acolá alguém que ainda se interessa pela sua vida e saúde.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa