Agradeço a visita que fez à minha página. Como já lhe escrevi, achei preferível responder à sua pergunta por Ciberdúvidas, porque a dúvida que apresenta pode estar no espírito de outros leitores, e é conveniente esclarecer bem a minha ideia.
Quando afirmo que o VOLP da Porto Editora é comercial, isso não envolve qualquer desprimor.Sublinho que tenho em alto apareço as obras da Porto Editora. Além doseu VOLP que já adquiri e me foi também útil, consulto frequentemente vários dicionários desta editora e incluí o Grande Dicionário como obra de referência base, na bibliografia do meu Prontuário.
Comercial significa unicamente aquilo que na realidade é: obra duma entidade privada, que não faz lei na língua, pois a Porto Editora não tem essa incumbência; como, por exemplo, tem tido a Academia das Ciências de Lisboa.
É por isso que me permito discordar de algumas soluções escolhidas para esse VOLP. Por exemplo, apresenta:
1«Cor de rosa», ou «água de colónia», sem hífenes (neste último composto com o top{#ó|ô}nimo em minúsculas, não obstante a ausência de hífenes...), contrariando o texto do acordo.
2 Iniciais st de "stresse". O Dicionário Etimológico de José Pedro Machado
regista, na entrada estar, que em 1044 se escrevia esta, já com e
protético. As iniciais st terão existido na língua como escrita alatinada,
não como língua portuguesa. De qualquer forma, grafias de épocas passadas ficam arcaicas e não justificam agora a subserviência ao inglês. O Brasil sabiamente tem: estresse, estressar, estressante, estique, estafe, etc., derivadas de termos ingleses iniciados por st; o próprio VOLP da Porto Editora tem estêncil e estoque, não se compreendendo a incongruência...
3 A insistência também com as iniciais sc em “scâner”, iniciais que foram banidas em 1931 na língua portuguesa (O VOLP brasileiro tem escâner).
4 O mamarracho “shuntar” (que não existe no VOLP brasileiro), esquecidos de que “shunt” não é um nome próprio que obrigue à grafia original.
Tudo contra a índole da língua.
Ora,estas alterações aos hábitos da história ortográfica só podem ser aceitáveis se forem legalizadas por uma entidade com autoridade na língua para o fazer. Aceito que isso possa vir a acontecer. Confio,porém, que, num dicionário comum, se mantenham depois as variantes do Brasil, para que, nessa altura, eu possa continuar a considerá-las também minhas, como hoje.
Esclareço que não me move qualquer animosidade contra o professor Malaca Casteleiro. Pelo contrário,respeito-o e admiro-o por tudo quanto tem feito pela nossa língua. Já por várias vezes estivemos em público do mesmo lado, na defesa do novo acordo.
O seu espírito de inovação é notável (a língua bem precisa desse espírito, embora sempre com moderação e no que for indispensável). O que acontece é que entrámos numa fase em que a inovação tem de ser um trabalho de conjunto com todos os países da lusofonia, hoje tão donos da língua como nós. Em especial o Brasil (coma sua enormidade de falantes e o grande empenho que tem com a sua língua, que diz generosamente ser portuguesa) merece-nos sempre que ponderemos bem as suas soluções.
Nota:em trocas de impressões com a ilustre consultora de Ciberdúvidas Prof. Dra. Edite Prada sobre este assunto, foi-me sugerido que as inovações contra o texto do Acordo poderiam aparecer como variantes às soluções recomendadas no Acordo de 1990 (ex. meu: cor-de-rosa/cor de rosa). Considero esta ideia uma boa solução, como preparativo para eventuais alterações do Acordo na altura de elaboração do Vocabulário Comum.