1. Na primeira oração, o sujeito é “comer carne”: «Ao Nuno, apetece-lhe comer carne» = «Apetece ao Nuno comer carne» = «Comer carne apetece ao Nuno». Como o complemento indirecto “ao Nuno”, exigido pelo verbo apetecer, aparece no início da oração, diferentemente da construção directa da frase portuguesa (SVO), surge a repetição do complemento indirecto (o complemento indirecto pleonástico): “ao Nuno” e “lhe”.
Na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra (pág. 146 da 2.ª edição), é apresentado o seguinte exemplo, de Gilberto Amado: «Aos meus escritos, não lhes dava importância nenhuma.»
No que diz respeito à segunda oração, a justificação para a utilização simultânea de “àquela rapariga” e “lhe” é a mesma.
2. Gostaria ainda de referir que a frase que apresenta contém duas orações ligadas por coordenação, mas construídas de forma diferente. As construções que respeitam unidade de construção são:
a) «Ao Nuno, apetece-lhe carne, mas àquela rapariga apetecem-lhe sardinhas.»: o sujeito é um substantivo em cada uma das orações.
b) «Ao Nuno, apetece-lhe carne, mas àquela rapariga, sardinhas.»: por uma questão de elegância estilística, suprime-se o verbo “apetecer” na segunda oração.
c) «Ao Nuno, apetece-lhe comer carne, mas àquela rapariga apetece-lhe comer sardinhas.»: O sujeito em ambas as orações é constituído por uma expressão verbo + substantivo (“comer carne”, “comer sardinhas”).