Muito obrigado por me ter informado sobre a polémica à volta de uma das minhas respostas. O mestre na língua Prof. Neves Henriques diz que é com as pessoas que discordam dele que vai aprendendo, pois com as que concordam não aprende nada... Não vou tão longe, pois penso que posso aprender até mesmo com quem concorda comigo e, por isso, agrada-me sempre que façam comentários às minhas respostas. No meu entender, como sempre digo, Ciberdúvidas é um fórum de estudo, no qual todos colaboram, consultores e consulentes. Não está no meu espírito estabelecer doutrina pessoal na língua, mas estudá-la em grupo, nesta grande família da comum língua.
Posto isto, vamos ao problema concreto da polémica. Normalmente respeito a história das palavras registada por lexicógrafos idó[ô]neos; não é desculpa ignorá-la com o argumento de que nós é que temos bom senso. Rebelo Gonçalves, por exemplo, continua para mim a ser uma das referências-base; ora, é pinheiro-do-brasil que ele recomenda; e o mais recente dicionário, Grande Dicionário da Porto Editora, 2004, não regista pinheiro-do-brasil, mas regista pinhão-do-brasil, o que confirma a regra que defendi. E seria ocioso mencionar várias outras obras onde se verifica o mesmo critério.
Claro que também é legítimo escrever-se pinheiro do Brasil, sem hífenes, mas, no ponto de vista que tenho seguido sempre, não estamos já em presença do nome comum duma árvore plantada em qualquer país, mas daquele pinheiro especificamente existente no Brasil. Como confirmação da necessidade dos hífenes no nome comum e, aí, da minúscula no nome que era próprio, temos também, por exemplo, calcanhar-de-aquiles no Houaiss, edição para Portugal, no Aurélio e no «Vocabulário» da Academia Brasileira de Letras.
Podia ficar por aqui. No entanto, a honestidade manda que acrescente o seguinte: Rebelo Gonçalves e o Grande Dicionário da Porto Editora registam `calcanhar de Aquiles´ (sem hífenes e com inicial maiúscula no nome próprio). Eu próprio também fiz o mesmo registo no Prontuário da Texto, respeitando a tradição em Portugal. Ora, a presente polémica deu origem a que eu meditasse melhor neste caso específico. Por uma questão de coerência, a verdade é que o `ponto fraco´, atribuído à estrutura `calcanhar de Aquiles´, agora já não é o ponto fraco do próprio Aquiles, e, então, devia grafar-se calcanhar-de-aquiles, como fazem os irmãos brasileiros, já também recomendado para Portugal pelo Houaiss...
Termino pedindo à estimada companheira Manuela Ramos o favor de comunicar aos seus interessados correspondentes que mantenho a minha posição, mas que não tenho autoridade para condenar intransigentemente a ide[é]ia que defendem.
Agradece o