Partilho inteiramente da sua preocupação e concordo com as suas questões, que são também as minhas, mas, infelizmente, não posso dar-lhe uma resposta concreta às perguntas que nos envia.
Para além das diferenças gritantes no léxico (aluguer/locação, comboio/trem, penso-rápido/Band-Aid, fita-cola/durex, etc.), na morfologia (aceite/aceito, ter pegado/pego, mais pequeno/menor) e na sintaxe («ela foi à praia»/«ela foi na praia», «há gente aqui»/«tem gente aqui», «liga-me»/«me liga»...), existem ainda as tão criticadas “facultatividades” (Amazónia/Amazônia, António/Antônio) e todas as palavras que apresentam ligeiras diferenças entre as variantes de Portugal e Brasil, como registar/registrar, aluguer/aluguel e quotidiano/cotidiano, dobrado/dublado, sem falar na “armadilha” escondida em muitos termos que, sendo idênticos na forma, têm um significado completamente diferente para portugueses e brasileiros, como salpicão, bem, camisola, etc.
Nesse sentido, torna-se óbvio que o Acordo não muda nada, fica tudo como está: porque não é possível eliminar, através de uma convenção ortográfica, todas as diferenças que existem entre as duas variantes geográficas da nossa língua (por enquanto) comum. E, para concluir, permita-me citar um excerto de um texto meu sobre o Acordo, a propósito de um artigo publicado na revista Veja: «o uso de uma língua está estritamente ligado às idiossincrasias da cultura própria dos seus utilizadores. Pretender que os portugueses escrevam fato em vez de facto, ou que os brasileiros passem a grafar lingüiça sem trema é, talvez, comparável a obrigar os primeiros a dançar o samba nas festas populares e os segundos a comer bacalhau no Natal.»