Nem sempre é fácil o emprego do hífen (ou traço de união) na formação de substantivos compostos de outros substantivos.
De modo geral, ambos os substantivos tomam a forma de plural, quando ambos conservam a sua individualidade:
Casa-museu – cada substantivo tem a sua acentuação própria. Mais ainda: cada casa (com o seu conteúdo) é um museu. E cada museu é uma casa. Isto é, quando há duas individualidades que formam uma unidade, escrevemos os dois substantivos unidos por hífen; e ambos eles vão para o plural: casas-museus.
O mesmo com cidade-fantasma. Cada uma daquelas cidades é um verdadeiro fantasma; e cada um daqueles fantasmas é uma verdadeira cidade. Portanto, o plural será, logicamente, cidades-fantasmas.
E sob este raciocínio, teremos funcionários-fantasmas, crianças-prodígios, comícios-monstros.
E, do mesmo modo, temos os plurais reis-carrascos, rainhas-carrascos, manifestações-relâmpagos.
Quando os substantivos se encontram ligados também por uma preposição, somente o primeiro vai para o plural: amigo-da-onça, amigos-da-onça; pau-a-pique, paus-a-pique; pé-de-meia, pés-de-meia.
Às vezes não está lá a preposição, mas subentende-se.
Nestes casos, também só vai para o plural o primeiro elemento:
a) escola-modelo (= escola para modelo; isto é, escola que foi construída para modelo), escolas-modelo;
b) projecto-piloto (= projecto para piloto, isto é, projecto que foi elaborado para servir de piloto), projectos-piloto;
c) cidade-luz (= cidade-de-luz), cidades-luz;
d) pensamento-luz (= pensamento-de-luz), porque é um pensamento constituído de verdadeira luz que «ilumina» as mentes das pessoas. Mas esta luz não é (constituída) de chama, mas (constituída) de pensamento – é uma luz-de-pensamento. Portanto, luzes-pensamento.
Também podemos interpretar desta maneira: cada pensamento é uma luz, e cada uma dessas luzes é um pensamento. Interpretando assim, o plural será pensamentos-luzes.
e) Edifício-sede (= edifício para sede, isto é, edifício construído para sede); sendo assim, edifícios-sede.
Mas porque não interpretarmos doutra maneira? Assim: cada um desses edifícios com os seus elementos em funcionamento, é uma sede; e cada uma dessas sedes, com os seus elementos em funcionamento, é também um edifício. Raciocinando assim, o plural de edifício-sede será edifícios-sedes.
Quanto ao plural de ataque-relâmpago, é caso para pensar. No entanto, talvez seja preferível o plural ataques-relâmpago, porque podemos subentender a preposição em: ataque-relâmpago = ataque em relâmpago. Vejamos até que Aquilino Ribeiro escreveu o seguinte em «Lápides Partidas», cap. I, 7, conforme cita o «Grande Dicionário da Língua Portuguesa» de A. de Morais Silva, 10.ª ed. revista por J. Pedro Machado e outros: «Quis ainda fugir-lhe, tendo-me revisto, num relâmpago de autodissecação, amarrotado de corpo e alma depois de uma noite em claro.» Teremos, então, ataques-relâmpago.
Quando, no substantivo composto, há um substantivo que modifica o outro, comporta-se este como se fosse um adjectivo, isto é, vai também para o plural. Assim, temos criança-prodígio, crianças-prodígios (= crianças prodigiosas); do mesmo modo, comícios-monstros (= comícios monstruosos). É este o caso de substantivo que modifica o substantivo. É um substantivo que tem certo valor adjectival.
Quanto ao plural dos substantivos compostos, não há inteira concordância. Por isso, compreende-se que haja pessoas que discordem de mim aqui e acolá.
Em conclusão: os gramáticos e os linguistas que estudem profundamente o assunto, que o resolvam definitivamente e que digam como devemos proceder.