O «Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea», acabado de publicar, continua a basear-se na norma de 1945 (com mais de meio século). Não declara que enterrou o novo acordo; diz só no prefácio: «Daí que, não tendo sido aprovado o novo acordo ortográfico por todos os países de língua portuguesa, seja respeitada, neste dicionário, a ortografia vigente».
Sublinho que o novo acordo já foi ratificado pelos respectivos Parlamentos de Portugal, Brasil e Cabo Verde, povos que, no seu conjunto, constituem a larguíssima maioria dos falantes da língua portuguesa. Como em quase tudo, o consenso está a ser inibidor neste caso. E deixa-nos perplexos quanto a tanto trabalho feito, que continua sem ser utilizado, parecendo até nem merecer já grande interesse. O fracasso deste empreendimento, a somar a outros no passado, põe em dúvida qualquer possibilidade de entendimento geral neste domínio, o que é lamentável para o prestígio planetário da nossa comum língua.
Aliás há uma condição prévia para a entrada em vigor do novo acordo, a elaboração dum vocabulário comum, que não está ainda satisfeita, passados mais de 10 anos.
Os brasileiros, com o seu recente e vasto Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (de 1998, e cerca de 350 mil verbetes) já deram um passo que pode ser útil nesse sentido.
Em Portugal, a Academia das Ciências de Lisboa tem o seu também vasto Vocabulário de 1940 muito desactualizado. Fez publicar agora um dicionário que não tem esse objectivo. A Academia portuguesa não diz que enterrou o acordo de 1990, …mas...