DÚVIDAS

Negligenciável

Porque não «negligênciável»?

Negligenciável é, se não me engano, a forma correcta. A minha questão prende-se ao facto de, já que escrevemos «negligência», porque é que deixamos de usar o acento circunflexo quando escrevemos «negligenciável»? Só por não serem permitidos dois acentos? Então, se se pode retirar o acento devido a essa razão e manter a sonoridade da palavra, qual é a sua utilidade em «negligência»?

Resposta

O raciocínio lógico é frequentemente inadequado na Língua. Tratando-se duma ciência em mutação permanente, nem tudo obedece a um raciocínio lógico exigente. No entanto, os cientistas lá vão regulamentando a Língua com a lógica possível.

Ora bem, nas premissas actuais, podemos dizer que o termo «negliênciável» é ilógico. Uma vez que foram eliminados os sinais ortográficos em palavras derivadas (como portuguesmente e mazinha, por exemplo), o acento circunflexo e o acento agudo passaram unicamente a assinalar a tónica, e como só há uma sílaba tónica em cada palavra, estes dois acentos excluem-se mutuamente (ou um ou outro). Portanto, deve escrever-se: negligenciável, tónica em ¦ciá¦, sem o acento circunflexo.

Por outro lado, o termo «negligênciavel», com tónica em ¦gên¦, também seria ilógico, visto não haver sílaba tónica anterior à antepenúltima.

Quanto à necessidade de acento em negligência, trata-se da regra de acentuar todas as proparoxítonas aparentes (tónica em ¦gên¦, terminação em encontro vocálico postónico). Aqui a regra é controversa, estamos de acordo. Mas também é controversa a indispensabilidade de acentuar todas as proparoxítonas. Penso que este problema terá de ser resolvido algum dia.

Ao seu dispor,

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