A propósito do substantivo feminino marrafa, eis o que diz o Dicionário Houaiss: «1 Madeixa encaracolada e caída sobre a testa. 2 Cada uma das partes do cabelo separadas por uma risca. 3 Tipo de pente usado como adorno pelas mulheres. 4 No litoral do Rio de Janeiro e em São Paulo, dança do fandango (brasileiro) em rodas concêntricas. Etimologia: do antropónimo Marraffi, dançarino italiano que se apresentou em Lisboa em 1791; nas acepções 1 e 2, em alusão ao penteado usado por esse dançarino.» A origem italiana de marrafa pode ser também confirmada na respectiva entrada do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.
Marrafa entrou de facto em desuso em Portugal – onde, como diz, se vai ouvindo mais a expressão correspondente do «[penteado de] risco ao meio» –, mas não tanto no Algarve, como o regista o Dicionário do Falar Algarvio, de Eduardo Brazão Gonçalves (Algarve em Foco Editora), esclarecendo ainda melhor o original e o actual sentido do vocábulo: «Risco ao meio. Deu-se um desvio de significado da palavra, que na realidade quer dizer melena e que tem a sua origem no tipo de penteado usado pelo dançarino italiano Marraffi, que trabalhou no [teatro de Lisboa] S. Carlos, no fim do séc. XVIII.»