Compreende-se a dúvida da consulente. De facto/fato, segundo as normas em vigor, a vogal grafada i, quando antecedida de vogal com a qual existe hiato e desde que seja tónica/tônica, não forme sílaba com a consoante seguinte, não seja precedida de ditongo, etc., é acentuada (ex.: puído).
Acontece que com linguiça o raciocínio deve fazer-se de outro modo:
Os dígrafos gu, qu têm normalmente o som da consoante (ex.: guizo, subs., guiso, forma verbal, quente, etc.). O grafema u, seguido de i ou de e, é um símbolo no grupo, sem som, não independente. Para que o u se pronuncie, é necessário impor essa condição no grupo. É o que se faz presentemente em Portugal, por exemplo, em delinqúi (o acento agudo impõe o som ao grafema e simultaneamente marca a tónica/tônica). Nos casos em que interessava que não houvesse alteração dos acentos na palavra e se pretendia que a pronúncia do u fosse assinalada, usava-se o trema, um sinal gráfico, de diérese (separação). Lingüiça é um destes exemplos, como se grafava no Vocabulário da Academia das Ciências, portuguesa, de 1940 (e como continuam a escrever os nossos irmãos brasileiros).
Ora o trema foi suprimido no acordo de 1945, que Portugal passou a seguir (os brasileiros não). Assim, para os portugueses, a `linguiça gráfica´ continuou a ter igual pronúncia, mas agora sem o `condimento´… Na leitura, parte-se do princípio de que será estabelecido mentalmente o som do u e o hiato, com base no conhecimento da ortoépia da palavra.
Cf. Trema.
Ao seu dispor.