DÚVIDAS

«Inimaginadas»

Não será nada incomum escrevermos palavras que detêm um significado mais subtil, construídas segundo as regras, sem pensar se existem ou não. Mas lá está o corrector de texto a avisar (tantas vezes sem razão) e vai de consultar-se o dicionário, neste caso o condensado de Morais, e nada.
Por exemplo:
«Pulsa o coração das estrelas que são milhões, inimaginadas»
Esta palavra "inimaginadas" não pode ser substituída por "inimagináveis" que não tem claramente o mesmo significado e do mesmo modo por "não imaginadas" que não encerra a subtileza e a intensidade da primeira. Assim, entendo que "inimaginadas" significa "nunca imaginadas", mas com mais intensidade que estas duas palavras juntas, tornando a frase mais concisa e bela. "Não imaginadas" não significa "nunca imaginadas" mas apenas não imaginadas naquela ou noutra altura e não põe de lado a hipótese de ter já sido imaginada anteriormente. "Inimaginável" é apenas aquilo que está fora do entendimento poder imaginar-se.
Poder-se-á usar aquela palavra, sem ferir a língua portuguesa vernácula?
Uma vez mais, o vosso atento consulente antecipadamente grato, desde minha casa em Viseu.

Resposta

Está dicionarizada, por exemplo, a palavra inimaginável, e esta derivada do verbo imaginar.

Mas como poderemos formar «inimaginado», com o feminino do plural «inimaginadas», se não há o verbo «inimaginar»? Se houvesse, sim, o particípio passado seria inimaginado/a/os/as.

A mim parece que «inimaginado» (ou «inimaginadas», claro), é sinónimo perfeito da expressão não imaginado, porque o prefixo in- significa negação, tal como o advérbio não que, em não imaginado, funciona, quanto ao significado, como se fosse o prefixo in-. Além disto, o advérbio não imprime, parece, intensidade mais forte do que o prefixo in-. Quanto à subtileza de inimaginado, ou inimaginadas... é uma questão mais de sensibilidade, que varia de pessoa para pessoa.

Mais ainda: «inimaginadas» não significa nunca imaginadas, porque o advérbio nunca significa negação, mas no que respeita ao tempo, ao passo que o prefixo in- significa apenas negação, tal como o advérbio não. O prefixo in- nada tem que ver com o tempo. O que me parece é que não imaginadas e inimaginadas são sinónimos perfeitos ou, pelo menos, mais ou menos perfeitos. Ora as línguas são bastante avessas aos sinónimos perfeitos, porque podem causar confusão.

Por tudo isto, o que me parece é que é preferível pôr-se de lado o particípio passado (de que verbo?) inimaginado/a/os/as. Não é necessário. E o que não é necessário pode confundir.

Obs. – Peço desculpa da observação que vou fazer. Termina a sua consulta do seguinte modo: «Desde minha casa em Viseu». Esta maneira de dizer é espanholismo. Os espanhóis é que dizem desde em casos como este. Nós dizemos de: «Da minha casa em Viseu».

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