O pronome indefinido cada é distributivo, como vemos em frases como as seguintes:
1) Cada semana leio um destes livros. Isto é, tenho vários livros para ler, mas distribuo a leitura deles por várias semanas.
2) Cada um faz o seu serviço. Suponhamos uma empresa. Não há uma só pessoa para fazer todo o trabalho. Esse trabalho é distribuído diariamente pelos trabalhadores da empresa, e cada um faz o trabalho que lhe compete.
Não é este o caso em questão, porque o indefinido cada não é lá preciso para nada. O correcto é, pois, dizermos:
«Vinte reais em compras dão o direito de um cupom.»
Conclusão: Cada não está na sua função distributiva. Refere-se apenas a um conjunto sem qualquer ideia de distribuição. Por isso, a frase não está correcta.
Outros erros da frase:
a) Em vez de «dão o direito de um cupom», diga-se «dão direito a um cupom.» A preposição de emprega-se, geralmente, antes de verbos no infinitivo: «dão direito de fazer isto e aquilo.»
b) O vocábulo cupom é o aportuguesamento mal feito do francês 'coupon', retalho. O aportuguesamento será cupão, já dicionarizado e com o significado de «título de juro que faz parte de uma acção ou obrigação e que se corta na ocasião do pagamento». O francês 'coupon' deriva do verbo 'couper', cortar.
Não precisamos de 'coupon' nem de 'cupom' nem de cupão absolutamente para nada. Temos os vocábulos portugueses talão, mas principalmente senha, do latim 'signa'. E digo principalmente, porque talão deriva do francês 'talon', resto, bocado. E senha, vocábulo muito conhecido, significa: recibo, quitação, cautela; papel ou bilhete que autoriza readmissão numa assembleia ou num espectáculo; documento que atesta o pagamento das respectivas taxas exigidas para certos exames ou actos.
A frase correcta será, pois: Vinte reais em compras dão direito a uma senha, um título; ou, vá lá… a um cupão.