DÚVIDAS

Fotinha / fotinho

Parece que a resposta de José Neves Henriques (vide fotinha) é algo precipitada. Vejamos:
1. Não há como negar, para o Brasil, pelo menos, o uso generalizado de "fotinho" como diminutivo de "foto". Quando José Neves Henriques afirma que «não se compreende que haja quem diga uma fotinho», ou está considerando lorpas essa imensidão de usuários do idioma ou desconhecendo que a língua é um fenómeno essencialmente social. A argumentação no género do «é mais que evidente» e quejandos, em face de usos diversos, parece revelar certa falta de empatia, além de ser nada lógica. Cumpriria ao sr. José Neves Henriques explicar por que todo o mundo é lorpa e só ele, José Neves Henriques, esperto.
2. Parece falha a analogia que José Neves Henriques pretende estabelecer entre "fotinho", facto linguístico, logo social, e expressões como "cadeirinho", e "florinho", as quais, creio, pertencem apenas ao reino das cogitações deste senhor.
3. Quanto a "moto", a argumentação do género de «há muitas dezenas de anos, era assim que se dizia», faz-me lembrar o passadismo de «foi assim que me ensinaram na escola primária». Vale pelo que vale, por assim dizer. Seja, embora, uma admissão implícita de que o uso linguístico já é outro. Nem tudo está perdido.
4. «O substantivo foto é feminino, porque provém da redução de fotografia, substantivo feminino», diz José Neves Henriques. Pode ser que sim. Mas é de notar que existe a possibilidade de masculinos com análoga proveniência. Estou-me a lembrar de "cromo", correntemente masculino, redução do feminino "cromolitografia". Pode ser que haja outros. Talvez matéria de estudo para José Neves Henriques.
5. Persiste o problema de explicar o uso generalizado, aparentemente singular, de "fotinho". Pode ser que se empregue assim por eufemismo. Explico: dizer "fotinha", como quer José Neves Henriques, corre o risco de fonicamente ser interpretado como "fodinha". Pode ser.

P.S. – Nada tenho pessoalmente contra José Neves Henriques. Adito este "post scriptum" porque me parece que certas pessoas aí no Ciberdúvidas (que não, certamente, José Neves Henriques) reagem com os pés ao discurso da crítica, com troca de sopapos em vez de argumentos.

Resposta

Estou muito grato a Carlos Ferreira por discordar de mim, visto que nada aprendo com quem concorda comigo. Com os que discordam aprendo, porque me levam a observar, pensar, não raro a estudar e a aprender. Bem haja, pois.
Vejamos, então:
1.Fotinho – Em Portugal, é muito frequente o vocábulo foto, mas do género feminino, visto que se trata da redução do vocábulo fotografia. Se dizemos uma foto, esta foto, que linda foto!, etc. dir-se-á o diminutivo uma fotinha, esta fotinha, etc. Se no Brasil dizem um fotinho, não sei, visto não ser a minha especialidade o português do Brasil. Não vejo, pois, onde está a falta de lógica no meu esclarecimento anterior.
Dizemos a Filó, redução do nome próprio Filomena. E de Filó, temos o diminutivo Filozinha. O mesmo se dá com outras palavras femininas terminadas em o: acrescentamos sempre um sufixo feminino.
2. – Não. Não há falha na analogia entre «fotinho», «cadeirinho» e «florinho». Isto é, tal como em Portugal ninguém diz uma «cadeirinho» nem uma «florinho», também nunca ouvi dizer a ninguém uma «fotinho». Já está esclarecido, já?
3. – Quanto a «mota», não «foi assim que me ensinaram na escola primária». Era somente assim que eu ouvia dizer antigamente. E ainda há muita gente que o diz. E compreende-se, porque a terminação em -o é própria do masculino – digo própria, não digo .
4. – Quanto a foto, não se diga que «pode ser que sim», que provenha «da redução de fotografia». É que provém mesmo. Os próprios dicionários o dizem, entre eles o dicionário Aurélio, assim como os dicionários portugueses.
5. – Quanto ao emprego de «fotinho», os Brasileiros lá sabem porquê, quer digam um fotinho, quer uma fotinho.

 

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