As suas consultas estão bem feitas e dão para pensar, uma vez que, no mesmo caso, se apresenta Pelé em mais de uma situação:
1. – Considerando que Pelé ainda existe mas não joga
Vejamos, então, as suas frases:
(A) Pelé foi o único jogador a marcar 10 goles (e não gols; golos, em Portugal, e goles, no Brasil)) numa mesma partida.
(B) Pelé é o único jogador a marcar 10 golos numa mesma partida.
Apresenta-se aqui Pelé em duas situações de tempo.
Quanto à sua vida, Pelé foi (passado) e ainda é (presente).
Quanto à sua actividade, Pelé foi (passado) mas já não é (presente).
Uma vez que Pelé, como jogador, já não existe de verdade, mas apenas em nossa imaginação, não parece lógico proferirmos a frase (B), mas sim a frase (A), visto que o que ressalta à nossa imaginação é Pelé como jogador que foi, mas já não é; e não como vida humana, que foi e ainda é.
A frase (B) tem, pois, uma explicação, mas psicológica e não lógica: Pelé continua presente (Pelé é), em nossa imaginação, como jogador.
Nota. – Peço licença para dizer o seguinte: no Brasil, o inglês «goal» está aportuguesado em gol. O plural é goles e não «gols».
Em Portugal, está aportuguesado em golo, cujo plural é golos. Seria conveniente que se uniformizasse esta grafia, mas como a pronúncia é diferente...
Mais ainda: Na frase «Pelé foi o único jogador a marcar 10 gols (...)», temos a construção francesa «jogador a marcar», em vez de «jogador que marcou».
A este respeito pode o nosso consulente informar-se na entrada «A» do «Dicionário de Questões Vernáculas» de Napoleão Mendes de Almeida da LCTE Livraria Ciência e Tecnologia Editora LTDA, São Paulo, Brasil.
2. – Considerando que Pelé ainda joga
Vejamos, então, as seguintes frases:
(A) Pelé foi o único jogador a marcar 10 gols numa mesma partida.
(B) Pelé é o único jogador a marcar 10 gols numa mesma partida.
Podemos empregar a frase (A) ou a frase (B) conforme as circunstâncias. Se estivermos a falar de Pelé sobre a sua actuação no passado, empregaremos a frase (A). Mas se estivermos a falar de Pelé sobre a sua actuação no presente, podemos empregar a frase (B), porque, em nossa consciência, e sem darmos por isso, remetemos para o presente a acção de o Pelé ter marcado 10 goles. E remetêmo-la para o presente, porque temos a consciência de que no presente ele pode fazer o mesmo.
3. – Considerando que Pelé não existe
Neste caso, empregaremos a frase (A), porque tudo que pertence a Pelé está no passado: a existência e a actuação.