O termo ensaio deve-se a Michel de Montaigne (1533-1592), que publicou o seu livro «Les Essais» em 1580, e representa um género literário caracterizado, na sua origem, por um estilo dialogante, intimista, divagante e não sistematizado, baseado na liberdade individual, na reflexão sobre os negócios do mundo, e na busca de um pensamento original. O conceito sofreu uma evolução ao longo dos tempos, resultante dos contributos de Bacon, Locke, Leibniz, Pope, Montesquieu, Voltaire, Lamennais, Taine, Sainte-Beuve, ou, entre nós, Verney, Ribeiro Sanches ou António Sérgio, mas existe uma grande unanimidade no entendimento de que a obra a que este conceito melhor se aplica continua a ser a de Montaigne, que tão bem o definiu através da divisa «Que sais-je?» («O que sei eu?») – mais tarde, curiosamente, utilizada pelas edições «Presses Universitaires de France» (PUF) para designar uma numerosa colecção enciclopédica de pequenos volumes com que se pretende fazer o ponto da situação dos conhecimentos actuais... –, mas sobretudo das palavras com que apresentou o seu livro ao leitor:
«Eis aqui um livro de boa-fé, leitor. [...] Quero que através dele me vejam na minha feição simples, natural e vulgar, sem contenção ou artifício: porque é a mim que eu pinto. Os meus defeitos aqui se hão-de ler ao vivo, e também a minha forma singela, na medida em que mo permitiu a reverência pública. Tivesse eu estado entre aquelas nações que se diz viverem ainda sob a doce liberdade das primeiras leis da natureza, e asseguro-te que de bom grado eu me teria feito pintar de corpo inteiro, e inteiramente nu. Deste modo, leitor, eu próprio sou a matéria do meu livro.»
Recentemente, o termo ensaio tem-se vulgarizado, sendo utilizado para designar tanto trabalhos científicos de carácter analítico e mesmo descritivo, com o objectivo de apresentar e defender uma ideia ou uma teoria que se julga inovadora (monografias, teses académicas, etc.), como os trabalhos preparatórios de quaisquer obras previstas; é por isso que, por exemplo, se chama ensaio à representação de uma peça de teatro, antes da sua estreia perante o público, com o objectivo de verificar se tudo está como deve ser (dicção do texto, postura dos actores, som, luzes, guarda-roupa, marcações de palco, etc.); do mesmo modo, muitos artistas plásticos chamam ensaio a determinadas fases, parciais ou de conjunto, das respectivas obras, antes de as considerarem prontas para exposição.
Exceptuando-se os casos de utilização indevida do conceito, mantêm-se actuais as frases de Montaigne para definir o que seja ensaio: [1] «Eu sou a matéria do meu livro», na medida em que o ensaísta utiliza a sua liberdade individual e se baseia na reflexão que faz sobre as matérias de que trata, para sobre elas constituir um pensamento original; e [2] «O que sei eu?», porque, sempre que se faz um ensaio sobre uma dada matéria, é obrigatório proceder-se a uma actualização crítica dos conhecimentos já adquiridos, pelo próprio ou por outrem, sobre essa mesma matéria. No fundo, ensaio representa sempre, seja qual for a matéria que verse, um ajuste de contas entre o conhecimento já detido pelo autor e aquilo que ele pretende conhecer.
Por definição, um ensaio não tem estrutura predefinida. Basta-lhe que, tal como recomenda o bem senso, tenha princípio (introdução), meio (exposição e argumentação) e fim (conclusão)...
«Eis aqui um livro de boa-fé, leitor. [...] Quero que através dele me vejam na minha feição simples, natural e vulgar, sem contenção ou artifício: porque é a mim que eu pinto. Os meus defeitos aqui se hão-de ler ao vivo, e também a minha forma singela, na medida em que mo permitiu a reverência pública. Tivesse eu estado entre aquelas nações que se diz viverem ainda sob a doce liberdade das primeiras leis da natureza, e asseguro-te que de bom grado eu me teria feito pintar de corpo inteiro, e inteiramente nu. Deste modo, leitor, eu próprio sou a matéria do meu livro.»
Recentemente, o termo ensaio tem-se vulgarizado, sendo utilizado para designar tanto trabalhos científicos de carácter analítico e mesmo descritivo, com o objectivo de apresentar e defender uma ideia ou uma teoria que se julga inovadora (monografias, teses académicas, etc.), como os trabalhos preparatórios de quaisquer obras previstas; é por isso que, por exemplo, se chama ensaio à representação de uma peça de teatro, antes da sua estreia perante o público, com o objectivo de verificar se tudo está como deve ser (dicção do texto, postura dos actores, som, luzes, guarda-roupa, marcações de palco, etc.); do mesmo modo, muitos artistas plásticos chamam ensaio a determinadas fases, parciais ou de conjunto, das respectivas obras, antes de as considerarem prontas para exposição.
Exceptuando-se os casos de utilização indevida do conceito, mantêm-se actuais as frases de Montaigne para definir o que seja ensaio: [1] «Eu sou a matéria do meu livro», na medida em que o ensaísta utiliza a sua liberdade individual e se baseia na reflexão que faz sobre as matérias de que trata, para sobre elas constituir um pensamento original; e [2] «O que sei eu?», porque, sempre que se faz um ensaio sobre uma dada matéria, é obrigatório proceder-se a uma actualização crítica dos conhecimentos já adquiridos, pelo próprio ou por outrem, sobre essa mesma matéria. No fundo, ensaio representa sempre, seja qual for a matéria que verse, um ajuste de contas entre o conhecimento já detido pelo autor e aquilo que ele pretende conhecer.
Por definição, um ensaio não tem estrutura predefinida. Basta-lhe que, tal como recomenda o bem senso, tenha princípio (introdução), meio (exposição e argumentação) e fim (conclusão)...