A dupla adjectivação ou adjectivação binária é um dos recursos estilísticos da predilecção de Eça de Queirós – algo que parece ser quase obsessivo –, que «é usada por Eça para caracterizar os objectos [da sua atenção], exprimindo as duas faces da realidade: a objectiva e a subjectiva. (Ernesto Guerra da Cal, Linguagem e Estilo de Eça de Queirós, Lisboa, ED. Aster, s.d., p. 155)
Assim, enquanto um dos adjectivos nos dá a nota concreta e objectiva, que é geralmente dado físico, o outro expressa o juízo de valor do narrador, ou seja, o primeiro revela o estímulo sensorial, e o segundo, a impressão valorativa, recurso este que parece evidenciar-se como manifestação do impressionismo da visão queirosiana.
Mas, se a adjectivação binária joga com o domínio das percepções [sensoriais/físicas e subjectivas/psicológicas], procurando dar ao leitor uma imagem realista do objecto caracterizado, «em muitos casos, esse duplo adjectivo tem [também] uma função […] musical e rítmica» (ob. cit., p. 154), correspondendo ao desejo de completar a linha melódica da frase.