Não se percebe por que razão a minha resposta de 2 de Abril não satisfez, visto que nada pediu e nada perguntou. Apenas expôs o sucedido. Mas pela minha boa vontade não me limitei a dizer que a frase apresentada estava correcta. Apresentei-lhe até várias frases em que o complemento directo vai regido de preposição, sem que tal me pedisse.
É claro que até lhe agradeço a segunda consulta, à qual estou respondendo, mas não há razão para ter ficado «desapontado porque aquilo de que (...) necessitava era da regra gramatical a usar nestes casos, e não de uns exemplos para os quais a dúvida é a mesma» -- como se afirma.
Para quê apresentar as regras dos vários exemplos apresentados, se nem sequer uma me pediu? Como saber eu se o desejava ou não?
Aqui vai a regra do complemento directo preposicionado respeitante à frase apresentada anteriormente: emprega-se com alguns pronomes indefinidos, principalmente quando se referem a pessoas. Esses pronomes são: um, outro, quanto, tudo, todo, ninguém.
Eis a razão por que o correcto é dizermos:
«(...) cujos danos a todos atingirão (...).»
Em francês é que a diferença entre o complemento directo e o indirecto é esta: o indirecto é geralmente regido de preposição; mas o directo, não. Em português também assim é, mas há muitos casos em que o complemento directo vai regido de preposição.
Peço-lhe um favor: não repare de não mencionar as outras regras. Teria de escrever muito. E só uma boa gramática é que as tem todas.
Aqui vai a diferença entre complemento directo e complemento indirecto.
Complemento directo é o elemento da oração que indica o ser para o qual transita directamente a acção expressa pelo verbo; e complemento indirecto é o elemento da oração que indica o ser para o qual transita indirectamente a acção. Um exemplo:
A Maria deu o bolo à Joana.
Há três seres que tomam parte na acção de dar: a Maria, o bolo e a Joana.
Quando a Maria pensou em dar o bolo, começa já a acção de dar.
Quando a Maria pega no bolo, a acção transita directamente da Maria para o bolo. Por isso, dizemos que o elemento o bolo é o complemento directo de deu.
Quando a Maria entrega o bolo à Joana, a acção transita indirectamente da Maria para a Joana. Dizemos indirectamente, porque transita por intermédio do bolo. Por isso, dizemos que à Joana é o complemento indirecto de deu.
Se dissermos que o complemento directo está ligado ao verbo sem preposição, vamos contra os muitos casos em que ele aparece regido de preposição -- geralmente a preposição a, mas também pode ser de ou por.
E não digam que a gramática francesa é mais simples que a portuguesa. Basta dizer que tenho aqui ao meu lado uma gramática francesa com 1194 páginas. E a última edição ainda tem mais.
Não sei se fui claro. Por isso estou ao inteiro dispor do nosso consulente para esclarecer qualquer dúvida -- e com muito prazer.