DÚVIDAS

Complemento directo

Coloquei uma dúvida intitulada "… a todos atingirão" no dia 27 de Março, à qual o Senhor respondeu no dia 2 de Abril. Fiquei desapontado porque aquilo de que eu necessitava era da regra gramatical a usar nestes casos, e não de uns exemplos para os quais a dúvida é a mesma.

Tenho 33 anos e vivi em França até aos 25 e, por consequência, nunca tive aulas de Português. Sinto falta do rigor gramatical da língua francesa. De facto, aqui tenho que "decorar" as sequências de palavras a usar em função do contexto em vez de aprender as regras e usá-las adequadamente. Tenho pena que todos aqueles que questionei sobre a minha dúvida me tenham respondido que se devia usar a preposição "a", sem no entanto conseguir dar-me um justificativo.

O Senhor respondeu que ".. são bastantes os casos em que o complemento directo é regido de preposição…". Pergunto então qual é a diferença entre o complemento directo e indirecto.

Os meus respeitosos cumprimentos.

Resposta

Não se percebe por que razão a minha resposta de 2 de Abril não satisfez, visto que nada pediu e nada perguntou. Apenas expôs o sucedido. Mas pela minha boa vontade não me limitei a dizer que a frase apresentada estava correcta. Apresentei-lhe até várias frases em que o complemento directo vai regido de preposição, sem que tal me pedisse.

É claro que até lhe agradeço a segunda consulta, à qual estou respondendo, mas não há razão para ter ficado «desapontado porque aquilo de que (...) necessitava era da regra gramatical a usar nestes casos, e não de uns exemplos para os quais a dúvida é a mesma» -- como se afirma.

Para quê apresentar as regras dos vários exemplos apresentados, se nem sequer uma me pediu? Como saber eu se o desejava ou não?

Aqui vai a regra do complemento directo preposicionado respeitante à frase apresentada anteriormente: emprega-se com alguns pronomes indefinidos, principalmente quando se referem a pessoas. Esses pronomes são: um, outro, quanto, tudo, todo, ninguém.

Eis a razão por que o correcto é dizermos:

«(...) cujos danos a todos atingirão (...).»

Em francês é que a diferença entre o complemento directo e o indirecto é esta: o indirecto é geralmente regido de preposição; mas o directo, não. Em português também assim é, mas há muitos casos em que o complemento directo vai regido de preposição.

Peço-lhe um favor: não repare de não mencionar as outras regras. Teria de escrever muito. E só uma boa gramática é que as tem todas.

Aqui vai a diferença entre complemento directo e complemento indirecto.

Complemento directo é o elemento da oração que indica o ser para o qual transita directamente a acção expressa pelo verbo; e complemento indirecto é o elemento da oração que indica o ser para o qual transita indirectamente a acção. Um exemplo:

A Maria deu o bolo à Joana.

Há três seres que tomam parte na acção de dar: a Maria, o bolo e a Joana.

Quando a Maria pensou em dar o bolo, começa já a acção de dar.

Quando a Maria pega no bolo, a acção transita directamente da Maria para o bolo. Por isso, dizemos que o elemento o bolo é o complemento directo de deu.

Quando a Maria entrega o bolo à Joana, a acção transita indirectamente da Maria para a Joana. Dizemos indirectamente, porque transita por intermédio do bolo. Por isso, dizemos que à Joana é o complemento indirecto de deu.

Se dissermos que o complemento directo está ligado ao verbo sem preposição, vamos contra os muitos casos em que ele aparece regido de preposição -- geralmente a preposição a, mas também pode ser de ou por.

E não digam que a gramática francesa é mais simples que a portuguesa. Basta dizer que tenho aqui ao meu lado uma gramática francesa com 1194 páginas. E a última edição ainda tem mais.

Não sei se fui claro. Por isso estou ao inteiro dispor do nosso consulente para esclarecer qualquer dúvida -- e com muito prazer.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa