Como se aponta no CD-ROM da TLEBS, subdomínio de classes de palavras, B3.1.2.1.1., há graus de abstracção e de concretismo de um nome. Por exemplo, voz é mais concreto que viuvez, porque o primeiro é um fenómeno físico (e, neste caso, até deveria ser classificado como concreto, porque relativo a uma realidade audível, ou seja, tangível), e o segundo, um estado civil, culturalmente situado [logo, abstracto].
De qualquer modo, concordo que, em termos globais, se classifique as palavras voz e viuvez como se faz na pergunta. Assim, voz e viuvez são nomes abstractos uma vez que não nomeiam seres vivos. Contudo, a classificação de um nome pode nem sempre corresponder à sua compatibilidade com outras palavras: em «uma voz sedutora/protectora/determinada», voz adquire propriedades de um nome não só animado, mas também humano; em «viuvez sem dignidade», viuvez também adquire os traços [+animado] e [+humano]. Por outro lado, viuvez pode tornar-se contável, se pensarmos que a situação de ficar viúvo é definida por um conjunto de casos («há viuvezes felizes») ou se pode repetir na vida («a D. Alzira vai na segunda viuvez» = «a D. Alzira já conta com duas viuvezes»).1 Devemos, portanto, estar atentos ao uso das palavras em contexto.
Quanto à última pergunta, não há coincidência perfeita. Pelo menos, não se pode considerar que um nome abstracto seja sempre não contável, tal como a própria TLEBS alerta (subdomínio classes de palavras, B3.1.2.1.1.). Por exemplo, a palavra dificuldade pode ser usada no singular como não contável («Tenho dificuldade em compreender o racismo») ou no plural, como contável («o montanhista enfrentou várias dificuldades: o vento, a neve...»).
1 Agradeço a Rui Gouveia as observações em relação ao comportamento contável de viuvez.