DÚVIDAS

Antídoto, de novo

Há, de facto aqui, um problema de comunicação.

Para o eliminarmos, teremos que voltar à questão inicial, ou seja, a construção "dê-me algo que faça bem à gripe."

Foi muito bem explicado na vossa resposta que, uma coisa são as palavras "per si" e outra o sentido lógico/ilógico da frase, onde elas se inserem.

É aqui que se coloca a pergunta.

Esta "construção" tem um termo técnico para ser definida ou não?

Penso que agora teremos encontrado o fio da meada.

P.S. O uso da palavra antídoto não foi meu, mas sim do Ciberdúvidas, provavelmente por necessidade técnica de titular uma questão.

Resposta

Será desta vez que nos vamos entender? Se não for, será um dia.

Seja, então, a frase:

«Dê-me algo que faça bem à gripe.»

A construção desta frase é inteiramente normal. Por isso não tem nenhum «termo técnico para ser definida ou não». Refiro-me à construção da frase, mas não ao pensamento.

Para a construção desta frase, há três ideias básicas: a gripe, o medicamento e o fazer bem (ao doente).

O falante está mais fortemente dominado pela ideia de fazer bem do que pela ideia de debelar a gripe. E compreende-se, porque o fazer bem está intimamente ligado ao seu corpo e a si próprio. A ideia de fazer mal, embora esteja ligada à gripe, não lhe passa pela cabeça, porque ele (e todos nós) não se sente levado a ligar ao estado de saúde do seu corpo a ideia de fazer mal.

É este estado da nossa psique que nos leva - pelo menos é o que parece - a dizermos «Dê-me algo que faça bem à gripe». E porquê? Porque, nesse momento, estamos a visualizar e a sentir o nosso organismo a ficar de saúde, que é o que nos interessa - estamos centrados em nós e na nossa saúde.

Aqui há uns dois ou três anos, senti-me engripado. Entrei numa farmácia e pedi: «Dê-me alguma coisa que faça mal à gripe». A pessoa fitou-me durante um ou dois segundos, foi lá dentro e trouxe-me o respectivo remédio. Tomei-o e fiquei bem da gripe. Note-se: não fiquei bem da gripe, mas sim do meu organismo. Mas como, no momento em que estou a escrever, a minha mente está ligada à ideia de gripe, saiu-me assim a frase.

Como vemos, na construção da frase não é somente o eu pensante que impera.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa