Será desta vez que nos vamos entender? Se não for, será um dia.
Seja, então, a frase:
«Dê-me algo que faça bem à gripe.»
A construção desta frase é inteiramente normal. Por isso não tem nenhum «termo técnico para ser definida ou não». Refiro-me à construção da frase, mas não ao pensamento.
Para a construção desta frase, há três ideias básicas: a gripe, o medicamento e o fazer bem (ao doente).
O falante está mais fortemente dominado pela ideia de fazer bem do que pela ideia de debelar a gripe. E compreende-se, porque o fazer bem está intimamente ligado ao seu corpo e a si próprio. A ideia de fazer mal, embora esteja ligada à gripe, não lhe passa pela cabeça, porque ele (e todos nós) não se sente levado a ligar ao estado de saúde do seu corpo a ideia de fazer mal.
É este estado da nossa psique que nos leva - pelo menos é o que parece - a dizermos «Dê-me algo que faça bem à gripe». E porquê? Porque, nesse momento, estamos a visualizar e a sentir o nosso organismo a ficar de saúde, que é o que nos interessa - estamos centrados em nós e na nossa saúde.
Aqui há uns dois ou três anos, senti-me engripado. Entrei numa farmácia e pedi: «Dê-me alguma coisa que faça mal à gripe». A pessoa fitou-me durante um ou dois segundos, foi lá dentro e trouxe-me o respectivo remédio. Tomei-o e fiquei bem da gripe. Note-se: não fiquei bem da gripe, mas sim do meu organismo. Mas como, no momento em que estou a escrever, a minha mente está ligada à ideia de gripe, saiu-me assim a frase.
Como vemos, na construção da frase não é somente o eu pensante que impera.