Vejamos, então, a expressão «sem o que» na frase apresentada:
(a) Temos de construir a utopia, sem o que a possibilidade de civilizar o capitalismo não dará em nada.
Ensina Napoleão Mendes de Almeida na sua obra «Dicionário de Questões Vernáculas» na entrada O que: «Pode 'o que' equivaler a isto em período como este: "Ele portou-se mal, 'o que' muito me contrariou". 'O que', neste caso, indica oração coordenada».
1. – Seguindo esta doutrina, podemos escrever a frase (a) do seguinte modo:
(b) Temos de construir a utopia; sem isto a possibilidade de civilizar o capitalismo não dará em nada.
A oração iniciada por «sem o que», já classificada de coordenada por N. M. de Almeida, analisa-se do seguinte modo:
sem o que – complemento de exclusão.
a possibilidade de civilizar o capitalismo – sujeito da oração.
Analisemos agora o sujeito:
possibilidade – núcleo do sujeito.
de civilizar o capitalismo – complemento restritivo, visto que está a restringir o significado de possibilidade, em que o capitalismo é complemento directo de civilizar.
não dará em nada – predicado da oração.
2. – A expressão «sem o que» não se analisa sintacticamente, porque é um todo indivisível. Apenas a podemos analisar morfologicamente, mas não foi isto que se pediu.
Quanto a correcção, está inteiramente certa, e é muito vulgar.
3. – O «que» da expressão acima não deve ser acentuado, porque não dizemos /o quê/ nem /o qué/, porque o e é mudo.