O termo alheira diz respeito a um produto alimentar fabricado originariamente em Trás-os-Montes e no Alentejo, designando realidades ligeiramente diferentes: chouriça transmontana temperada com alhos e chouriça de massas, do Alentejo. Quanto ao termo tabafeira (o mesmo que tabafeia), trata-se de um provincianismo transmontano que designa chouriço recheado de pão de trigo, gordura e carnes, cozidas, de várias qualidades, próprio para se comer logo depois de feito. Aparece também como sinónimo de alheira. Na Grande Enciclopédia da Cozinha, de Maria de Lourdes Modesto, está registado como o nome que se dá em Trás-os-Montes a um chouriço recheado de pão de trigo, gorduras e carnes, tudo cozido. Se pretende saber a obra em que as palavras aparecem utilizadas pela primeira vez, não consegui obter tal informação. Poderei dizer que, a nível de dicionários, a palavra alheira aparece registada pela primeira vez na 7.ª edição do Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva, de 1878 ("alhèira"), remetendo para aliária ("alliária"), que significa "planta, espécie de escórdio; lança talos delgados e folhas semelhantes às das violas, tem o cheiro de alho". Ou seja, o termo já está dicionarizado, mas ainda não vem referida a sua acepção de "espécie de chouriço temperado com alhos que se fabrica em Trás-os-Montes", como aparece na 10.ª edição (1949-1958) do mesmo dicionário. É apenas no Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa, de Artur Bivar (1948), que, além do significado de "chouriça transmontana", aparece o de "chouriço de massas, do Alentejo". Quanto à palavra tabafeira, ela aparece registada como tabafeia na 8.ª edição do referido dicionário de António de Morais Silva, de 1890, como termo de Trás-os-Montes, significando variedade de chouriço de carne, em que entram miúdos de porco, galinha, etc., devendo por sua composição especial comer-se pouco depois de feito. A referência à sua sinonímia com alheira é feita apenas na 10.ª edição desse dicionário (1949-1958). A respeito da etimologia de tabafeira, ela não vem registada no dicionário etimológico de Antenor Nascentes nem no de José Pedro Machado, como referiu. Trata-se de um provincianismo transmontano e a palavra original é tabafeia, para a qual é remetida a significação do termo tabafeira. Esta terminação -eia é árabe. Como tínhamos o sufixo –eira, muitas vezes estas duas terminações se fundiam e confundiam; daí aparecer -eira por -eia. É pertinente a sua sugestão de ligação com tabefe. Este termo já aparece registado no Vocabulário Português e Latino, de Rafael Bluteau (1712) como usado no Alentejo para designar a água que fica depois de coalhado o leite, para se fazerem os queijos, e também o leite engrossado ao lume com açúcar. Na 7.ª edição (1878) do Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva, refere-se a origem árabe do termo tabefe (tabiche), com o significado de "cozinhado", "guisado", proveniente do verbo árabe tabacha, que significa cozinhar, guisar. Assim, sabemos que tabefe é de origem árabe, bem como a terminação -eia. Eventualmente, o termo tabafeia, termo árabe, poderia ter sido trazido para Portugal pelos judeus, quando no final do século XV são expulsos de Espanha pelos Reis Católicos. Remonta a essa época a entrada em Portugal de certas comidas e respectivas designações.