Se você quer dizer que os amigos combinavam uma festa às escondidas, entre eles, então deve utilizar a locução adverbial à surdina, mas se quer dizer que os amigos se meteram todos dentro de uma surdina para combinarem uma festa, então poderia dizer na surdina. Esta segunda opção, gramaticalmente, seria possível, mas, realisticamente, a situação é improvável, pois, como certamente sabe, surdina é aquela pequena peça que os músicos colocam nos instrumentos quando querem abafar o som.
A sua dúvida, no entanto, tem toda a razão de ser. O uso da expressão na surdina, querendo significar «à surdina» ou «em surdina», já se generalizou no Brasil. A imprensa usa e abusa, com as excepções de praxe. No verbete “surdina” do Manual de Redação e Estilo do jornal “O Estado de São Paulo”, por exemplo, é possível encontrar a recomendação: use «em surdina» e não “na surdina”.
Por que “na surdina” não está correcto? Porque não existe aí uma locução adverbial (a junção de duas ou mais palavras equivalendo a um advérbio) de modo, querendo indicar que alguma coisa foi feita de uma determinada maneira. No caso, abafadamente, como a surdina faz com o som que passa por ela.
Quando você diz que algo foi feito «na surdina», está dizendo que isso aconteceu num determinado lugar – no caso, na surdina, a peça utilizada pelos músicos –, mas não de um determinado modo.
Portanto, quando quiser afirmar que algo foi feito pelas caladas [pela calada, em Portugal], lembre-se da propaganda das sandálias havaianas: não se deixe enganar pelas falsas locuções adverbiais (“na surdina”), prefira as legítimas: à surdina ou em surdina.