O país africano onde a língua portuguesa está mais implantada é Angola.
Angola nunca teve uma segunda língua nacional.
Moçambique também nunca teve uma segunda língua nacional, mas o Sul (por influência da antiga "África Oriental e Austral Inglesa", sofreu uma pressão terrível do inglês e muita gente de Maputo, por exemplo, expressa-se tanto em português como em inglês e muitas expressões inglesas entraram no linguajar do dia-a-dia do cidadão comum.
Cabo Verde dispõe da língua cabo-verdiana (com dialectos locais) para fazer frente ao português, mas não tem línguas regionais.
A Guiné-Bissau é trilingue: português, guineense e línguas regionais.
É natural que, com o colapso ou enfraquecimento dos sistemas de ensino e de cultura, sejam as línguas locais a valorizar-se.
Angola, no entanto, com a sua guerra total tão prolongada e devastadora, criou um grupo de milhões pessoas, os deslocados de guerra, que andam por todo o lado à procura de segurança, seja dentro de armazéns abandonados dos subúrbios de Luanda, seja nos terrenos adjacentes dos hospitais das pequenas cidades. Esses mendigos da guerra têm de recorrer ao português para se fazerem entender.
Portugal não tem estratégica cultural. Como é que um país de incultura e que atravessa um período histórico a que "chamo infantilismo falso novo-riquista" - onde os valores materiais se sobrepuseram aos culturais e espirituais - pode fazer algo pela língua comum noutros países? São os próprios países africanos que, tendo interesse na manutenção da língua portuguesa, com fins de unidade nacional, estabilidade e relacionamento internacional, vão mantendo a língua portuguesa. Se Portugal não se interessa minimamente com a sua língua dentro do seu território, como se pode preocupar com essa mesma língua noutros países? As elites político-empresariais ficam surpresas quando aparece um brigadeiro Assumane Mané, na Guiné, que não se expressa em português. Até lhe deram uma medalha, esperançados em que ele, grato, aprenda a língua de Pessoa e de Camões.
Vou criar polémica: os dirigentes dos chamados PALOP são destribalizados.
Quanto mais "ligados" estiverem à Europa mais se afastam da língua original. Agostinho Neto não se expressava na língua da sua região natal... nem Samora Machel.... e agora também não o fazem José Eduardo dos Santos e Joaquim Chissano. Afonso Dhlakama faz também um grande esforço para se fazer entender no melhor português possível. Na Guiné, o novo Presidente, Kumba Ialá, é nitidamente um defensor da língua portuguesa.
Nem tudo está mal para a língua portuguesa nesses países, por mérito desses próprios países. Porque em Portugal passou a ser "politicamente incorrecto" expressar-se em bom português. E as camadas pseudotécnicas estão entretidas em assumir e expressar-se cada vez mais em "calão das novas tecnologias": "package", "site", "frame", "outsourcing", "manager", etc., etc.
Talvez eu não tenha sido profundo, mas pelo menos ficam estes apontamentos para polemizar.