Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Diz-se «melhor pivot feminino», ou «melhor pivot feminina»?

Resposta:

O substantivo pivô (aportuguesamento de pivot) é comum de dois, pelo que a expressão mais correta é «melhor pivô feminina». Aliás, podendo pivô desencadear a concordância no feminino, afigura-se até redundante na expressão o adjetivo feminina, e recomenda-se simplesmente «a melhor pivô» ou «a melhor pivô portuguesa/brasileira/espanhola/etc.».

Nas fontes consultadas, o termo pivô, do francês pivot, levanta alguns problemas quanto à atribuição do género. O Grande Dicionário da Língua Portuguesa considera-o um nome comum de dois e define-o como; 1 – «(rádio, televisão) apresentador que estabelece a ligação com os repórteres nos programas informativos»; 2 – (desporto) «jogador relativamente fixo cuja função é fazer girar ou coordenar certas jogadas da sua equipa». Assim, o artigo que precede os nomes desta categoria determina o género da palavra («o/a pivô»), não havendo, portanto, alterações na morfologia da palavra (a palavra mantém a mesma forma independentemente do género). A mesma situação se verifica em relação a expressões adjetivas que acompanham estes nomes («o pivô português/a pivô portuguesa»). No entanto, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, atribui o género masculino ao termo em apreço, apresentando a seguinte abonação: «O pivô do telejornal é um profissional competente.» Já o Dicionário Houaiss não regista pivô com a aceção de «apresentador televisivo», apenas com a aceção de «[nos desportos coletivos] jogador que serve de base para a armação das jogadas, passando a bola aos companheiros para que finalizem as jogadas».

Consultando o corpus linguístico do CETEMPúblico, podemos verificar que ao nome pivô tanto é atribuído o género masculino...

Pergunta:

Qual a origem e como devo explicar o que quer dizer a expressão «fazer partes gagas»?

Resposta:

A expressão «fazer partes gagas» significa, de acordo com Orlando Neves (Dicionário de Expressões Correntes), «recuar, acovardar-se, desistir, disfarçar, argumentar com argumentos disparatados». Outra fonte, o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, refere o uso da expressão para designar a «prática de ações para despistar».

Infelizmente, não nos foi possível descortinar a origem da expressão em causa.

Pergunta:

Será correto o adjetivo afiliativo, para designar:

a) aquele(a) que promove a afiliação?

b) aquele(a) que tem excelente capacidade para obter apoio dos outros?

Resposta:

O termo afiliativo não consta em nenhuma das fontes por nós consultadas¹. No entanto, e não obstante não figurar nas fontes consultadas, no sentido de verificar se o termo se encontra em uso, uma rápida consulta num motor de busca identifica a ocorrência do termo, a título de exemplo, nos seguintes contextos em referência a tópicos de psicologia e economia:

– «comprometimento afetivo e afiliativo» (com o sentido de «tratar como um um filho/perfilhar»);

– «estilo afiliativo» (com o sentido de «adotar uma postura modelar na relação aos outros»).

A interpretação dos contextos apresentados permite verificar que os significados que o consulente refere se aproximam das ocorrências identificadas nas fontes onde o termo ocorre.

 

 ¹ Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, e Novo Houaiss da Língua Portuguesa.

Pergunta:

Estes termos podem ser considerados como sinónimos?

Muito obrigada.

Resposta:

Ainda que possam ser utilizados correntemente em idênticos domínios do saber científico – nomeadamente na medicina, na biologia e na física –, os termos indicados não devem ser confundidos e interpretados como sinónimos, apesar de um mesmo campo semântico – o meio ambiente – os poder relacionar. Refira-se que também se assinalam algumas diferenças de uso entre a variante europeia e a variante brasileira do português.

Orgânico/a (do lat. organicus), na área da biologia e da medicina, refere aquilo que é relativo aos órgãos, ao organismo de um ser vivo, nomeadamente no que diz respeito ao corpo e à fisiologia humana. Pode também ser interpretado segundo a aceção de algo que faz parte da natureza de alguém ou de alguma coisa (inerente à estrutura de um organismo).

Biológico/a deriva do vocábulo biologia (do francês biologie, com base em elementos de origem grega), a ciência que estuda os seres vivos nos seus aspetos morfológicos e fisiológicos, os fenómenos vitais, os meios e/ou as condições necessárias à reprodução, ao desenvolvimento e sobrevivência dos seres. Assim, empregamos o referido adjetivo para designar algo que é relativo à vida, aos fenómenos ou às necessidades vitais dos seres vivos.

Note-se que em Portugal parece preferir-se a utilização do adjetivo biológico/a para designar um tipo específico de agricultura – a «agricultura biológica» – na qual não são utilizados fertilizantes ou pesticidas sintéticos, tal como nos indica o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. No entanto, na variante brasileira parece ser comum o emprego do termo orgânico/a para desig...

Pergunta:

Antes, durante e depois do recente conclave que elegeu o papa Francisco, aqui no Brasil muito se falava da «fumaça branca» e da «fumaça preta» que sairiam ou saíram da chaminé da Capela Sistina, embora em português clássico fosse mais correto, num caso como este, dizerem-se «fumo branco» e «fumo preto», enquanto a palavra fumaça seria reservada para designar uma quantidade enorme de fumo, o que evidentemente não é o que sai de uma pequena chaminé. No Brasil, até mesmo o fumo que se exala de um cigarro aceso é chamado de fumaça, e de resto qualquer fumo é fumaça, não importando a quantidade. Aqui a palavra fumo designa o tabaco ou o tabaquismo. A ouvidos brasileiros soaria estranho ouvir dizer-se, por exemplo: «Saiu fumo branco da chaminé da Capela Sistina.»

Pergunto-vos, pois, se a palavra fumaça, quando usada para designar qualquer quantidade de fumo, ainda que pequeníssima,é um brasileirismo. Também vos indago sobre como as palavras fumo e fumaça são usadas pelos portugueses.

Muito obrigado.

Resposta:

O uso de fumaça, com o significado de «fumo», é de facto característico do português do Brasil. Em Portugal, sempre que se verifica a eleição de um novo papa após a realização de um conclave, fala-se de «fumo branco». Caso contrário, quando a eleição não obtém sucesso, recorre-se à expressão «fumo negro». 

O termo fumaça, de acordo com o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, resulta da ligação ao núcleo de base fumo do sufixo derivacional -açaA fumaça, ainda de acordo com o supramencionado dicionário, designa: 1 – uma grande quantidade de fumo; 2 – nuvens provocadas pela aglomeração de fumo. Por fim, são registados como sinónimos de fumaça os termos fumaceira (de origem popular) e fumarada. Também o Novo Aurélio Século XXI regista o termo fumaça como «uma grande porção de fumo».

Na variante europeia do português, o termo fumo (do lat. fumus) aplica-se tanto ao fumo que sai da chaminé da Capela Sistina como ao fumo de um cigarro ou até mesmo ao fumo da lareira. O termo fumaça é então utilizado apenas para assinalar uma grande quantidade de fumo e nalguns idiomatismos populares, tal como «abater as fumaças de/a alguém» (com o sentido de «humilhar alguém») e ainda na locução adverbial, também de origem popular, «na fumaça da pólvora» (no mesmo momento).