Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Procurou-se, com o novo acordo ortográfico, promover o desaparecimento das letras supérfluas. Mas houve uma que escapou: o u a seguir ao q. Quando não pronunciado, este u não faz falta nenhuma. A minha dúvida é: porquê mantê-lo?

Resposta:

Antes de mais, algumas retificações:

 

1.ª O Acordo Ortográfico não promove o desaparecimento de letras que não são pronunciadas. Exemplo disso é o caso do h, que se mantém, como se pode verificar pelos exemplos transcritos — «haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor; hã?, hem?, hum!, anti-higiénico/anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano, ah! oh!» (conforme previsto na Base II do AO – Do h inicial e final);

 

2.ª – Só nas situações de duplas consoantes, e nas sequências interiores de uma palavra, é que «se eliminam [as consoantes] nos casos em que são invariavelmente mudas nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo» (Base IV – Das sequências consonânticas);

 

3.ª – O u não é uma consoante, é uma vogal, e o AO não prescreve a eliminação de vogais. Nem podia fazê-lo — porque, aí, sim, teria de haver uma alteração estrutural da língua, o que não cabe numa reforma ortográfica como esta de 1990.

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Pergunta:

Gostaria que me ajudassem na substituição da expressão «para estar aqui» na seguinte frase, por um pronome. A frase é: «Pediste-me para estar aqui às 5 horas.»

Estou um pouco confusa e não tenho bem a certeza de qual o pronome correto.

Resposta:

A expressão a substituir não será apenas «para estar aqui», mas «para estar aqui às 5 horas», pois é nisso que consiste o pedido. Assim, a resposta é «isso»: «Pediste-me isso

Embora haja autores que equacionam a possibilidade de o verbo parecer, em frases destas, seleccionar um complemento directo (e não um sujeito), como não são referidos argumentos que justifiquem a categorização do verbo parecer como transitivo directo, considero que, na frase «Parece-me que estou ouvindo S. Mateus.» (reduzi a frase original ao essencial), a oração «que estou ouvindo S. Mateus» desempenha a função sintáctica de sujeito do predicado «parece-me».

Pergunta:

Peço este esclarecimento: qual a regra para pronunciarmos com o o com o som de u nomes como Ronaldo, Rodrigo, Rolando e Rodrigues, e com o o aberto o nome Rosa ou o substantivo roda, por exemplo?

Resposta:

A vogal o pronuncia-se /ó/ ou /ô/ se fizer parte da sílaba tónica, e pronuncia-se /u/ quando faz parte de uma sílaba átona.

As palavras têm apenas uma sílaba tónica; as restantes são átonas. Tónica significa que essa sílaba tem mais som, é dita de uma forma mais intensa; átona significa que tem menos som.

Nas palavras que refere, a sílaba tónica é a sublinhada: Rosa, roda, Rodrigo, Rodrigues, Rolando, Ronaldo.

Na sílaba tónica, a vogal o pronuncia-se /ó/ se for aberta (Rosa, roda, carroça, pipocas,

Pergunta:

A análise sintáctica da frase «Joana, a melhor aluna da turma, ficou doente» está correcta?

«Joana, a melhor aluna da turma» – sujeito

«a melhor aluna da turma» – modificador apositivo (do GN «Joana»)

«ficou doente» – predicado

«doente» – predicativo do sujeito

Nesta frase, o modificador apositivo faz parte do sujeito?

Resposta:

A análise que fez está perfeita, cara consulente.

Nesta frase, o modificador apositivo faz, sim, parte do sujeito.

Para que fique claro, vou referir que, ao nível da frase, existem só quatro funções sintáticas, o sujeito, o predicado, o modificador de frase e o vocativo, e que todos os outros termos da oração se integram num destes quatro.

No caso do modificador apositivo do nome, ele pode pertencer tanto ao sujeito como ao predicado, integrando um dos complementos ou um modificador. Exemplos:

1. «Coimbra, a cidade dos estudantes, também é chamada cidade do conhecimento.» – o termo «a cidade dos estudantes» é modificador apositivo do nome «Coimbra», que desempenha a função de sujeito.

2. «Ele analisou bem o problema, um desafio de lógica.» – o termo «um desafio de lógica» é modificador apositivo do grupo nominal «o problema», que desempenha a função de complemento directo (pertencendo, pois, ao predicado).

3. «Ele entregou o embrulho à porteira, uma senhora idosa.» – o termo «uma senhora idosa» é modificador apositivo do nome «porteira», que desempenha a função de complemento indireto (pertencendo, pois, ao predicado).

4. «Ele interessa-se por física, uma área do saber muito complexa.» – o termo «uma área do saber muito complexa» é modificador apositivo do nome «física», que desempenha a função de complemento oblíquo (pertencendo, pois, ao predicado).

5. «Ela é uma professora muito competente, a melhor da escola.» – o termo «a melhor da escola» é modificador apositivo do termo «uma professora muito competente», que desempenha a função de nome predicativo do sujeito (pertencendo, pois, ao predicado).