Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora
Uma confusão recorrente

Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?

«Quem o atacou sabia onde morava e fizeram-lhe uma espera»,  escrevia-se no jornal 24 Horas de 15 de Fevereiro p. p., numa notícia sobre a agressão a um sargento da GNR.

Escrevia-se mal: o sujeito quem leva o verbo para a 3.ª pessoa do singular: «Quem o atacou sabia onde morava e fez-lhe uma espera.»

«Começa agora a desenhar-se os contornos da nova lei: período de reflexão curto, não há aconselhamento obrigatório e esta tónica de que o ministro da Saúde, pelo menos, quer que os abortos sejam feitos, prioritariamente, no Serviço Nacional de Saúde.»

Nesta frase1, o verbo começar deverá ir para a 3.ª pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, que está no plural («os contornos da nova lei»): «Começam agora a desenhar-se os contornos da nova lei.»

TVI

«O título provisório da história, que está prevista estrear em Novembro na Globo.»

Errada esta construção.1 Trata-se de uma história, melhor dizendo, de uma «telenovela, cuja estreia está prevista para Novembro, na Globo».

A notícia referia o vídeo dado à estampa pelo jornal inglês The Sun, que retrata o  erro de dois pilotos norte-americanos, em 2003, no Iraque, provocando a morte de um soldado britânico:
«O vídeo mostra também o profundo desespero dos pilotos ao perceberem do erro cometido.»1

Perceber de significa «ser perito em», «ter bons conhecimentos sobre» (ex.: «Ele percebe de computadores»).

Aperceber-se de significa «dar-se conta de», «notar» (ex.: «Ele apercebeu-se de que o carro não tinha travões»).