Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Notícia do Jornal da Tarde (RTP 1, 10 de Maio de 2007) sobre as investigações a propósito do desaparecimento de uma menina inglesa no Algarve: «As investigações prosseguem no terreno, com uma equipa de 180 inspectores da Judiciária, apoiada por 100 militares da GNR e por todos os elementos ...

Pergunta:

«Alter rixatur de lana soepe caprina» é um verso de Horácio que tentei traduzir à letra e que significa mais ou menos : «um outro brigão de lã soepe (?) de cabra. Estando em causa a origem da expressão «questões de lana-caprina» e por não conseguir obter o significado de soepe, que deverá tratar-se de alguma declinação, muito grato ficaria pela sua tradução.

Bem hajam por todo o vosso serviço à causa da cultura portuguesa.

Resposta:

A expressão portuguesa «questão de lana-caprina» provém directamente da latina rixari de lana caprina, que significava «disputar por simples bagatelas».

Em latim, rixari é um verbo depoente que significa «disputar, contender, brigar, contestar»; de é uma preposição que pede um ablativo e significa «a respeito de», «acerca de»; lana caprina é um termo que está no ablativo e significa «pêlo de cabra». Lana caprina significa «pêlo de cabra», tal como lana leporina significa «pêlo de lebre» (Dicionário Português-Latino, de Francisco Torrinha, pág. 835). Ora o pêlo da cabra não tem qualquer valor comercial, ao contrário, por exemplo, da lã das ovelhas.

O verso de Horácio a que se faz referência a propósito deste assunto é «alter rixatur de lana saepe caprina» (Epístolas, 1.18.15), que significa, literalmente, que «um deles discute muitas vezes acerca de pêlo de cabra», ou seja, «um deles discute muitas vezes a propósito de coisas sem importância». Saepe significa, pois, «muitas vezes».

Assim, tal como em latim, «uma questão de lana-caprina» significa precisamente algo sem qualquer importância, sem valor, que não merece uma discussão.

Legenda no Telejornal da RTP 1 (5 de Maio de 2007), a propósito das eleições presidenciais em França, traduzindo-se uma interrogação retórica a respeito da vitória de um dos candidatos: «Por que não? Por que não?»

Devia ter sido utilizado o advérbio interrogativo porque: «Porque não? Porque não?»

Este advérbio, que significa «por que motivo», «por que razão», nunca tem os seus constituintes separados.

Numa notícia do matutino 24 Horas, de 6 de Maio de 2007, sobre uma corrida relacionada com a luta contra o cancro, podia ler-se, a terminar: «Maria José Rita, que estava prevista participar na iniciativa, acabou por não poder comparecer.»

Esta frase está deficientemente construída, pois não é a pessoa que «está prevista», mas a sua participação. Uma alternativa seria: «Maria José Rita, cuja participação na iniciativa estava prevista, acabou por não poder comparecer.»

Três exemplos da utilização do advérbio melhor em vez da locução mais bem:

1) [Notícia do Jornal da Tarde da RTP 1, de 3 de Maio de 20007, sobre as eleições intercalares para a Câmara de Lisboa] «O PS encomendou uma sondagem para saber quem está melhor colocado