Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

No texto Bela Infanta, de Almeida Garrett, a palavra í o que significa?

Resposta:

O termo i (do latim ĭbī) é um arcaísmo1, ou seja, a forma arcaica do advérbio de lugar (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora).

Repare-se que a forma í presente no excerto transcrito de A Bela Infanta — onde é acentuada graficamente, tal como sucede com — rima com aqui, evidenciando o contraste semântico entre os dois advérbios de lugar: aqui (proximidade) e i/ (distanciamento).

– Que darias tu, senhora,

A quem no trouxera aqui?

– Dera-lhe oiro e prata fina

Quanta riqueza há por í.

– Não quero oiro nem prata,

Não nos quero para mi.

Que darias mais, senhora,

A quem no trouxera aqui?

1 Arcaísmo, ou seja, uma palavra que caiu em desuso; uma forma antiga.

Pergunta:

Utilizo, muitas vezes, esta frase: «No seguimento da nossa conversa telefónica de há momentos...»

Tenho sempre dúvidas se o "á" leva h ou não.

Agradeço um pequeno esclarecimento e a razão do mesmo.

Resposta:

De facto, a forma correta da frase implica o uso do verbo haver, tal como o consulente propõe: «No seguimento da nossa conversa telefónica de momentos...»

Este é um exemplo dos casos em que o verbo haver se emprega como impessoal, ou seja, «quando significa existir ou quando indica tempo decorrido, casos em que se conjuga tão-somente na 3.ª pessoa do singular» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 534).

Pergunta:

Qual é o aumentativo da palavra príncipe?

Resposta:

Embora a forma mais comum dos aumentativos das palavras resulte do processo de formação que é feito sinteticamente, ou seja, mediante o emprego de sufixos aumentativos — -(z)ão [caldeirão, papelão, motorzão]. -alhão [vagalhão, grandalhão], - (z)arrão [gatarrão, canzarrão, homenzarrão], -aço [animalaço, ricaço], etc. —, não podemos deixar de lembrar que existe, também, o processo analítico, em que se junta um adjetivo que indique aumento (grande, enorme), ou aspetos relacionados com essa noção.

Assim, se optarmos pelo processo sintético, e tendo como referência o diminutivo principezinho, resulta a forma principezão1. Se optarmos por formar analiticamente o aumentativo, obteremos:

«grande príncipe»

«enorme príncipe»

1 A preferência pela formação do aumentativo com -zão (e não com -ão), a exemplo do que sucede com o diminutivo com -zinho (principezinho), deve-se ao «intuito  de manter íntegra a pronúncia da palavra derivante» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 93).

Pergunta:

Como dividir em sílabas os nomes iogurte e iguana?

Resposta:

A divisão silábica — segundo as regras da gramática tradicional e da Base XX do Acordo Ortográfico de 1990 — dos nomes iogurte e iguana é feita da seguinte forma:

 

iogurte = i-o-gur-te1 (Dicionário da Divisão Silábica, do Portal da Língua Portuguesa, da responsabilidade do ILTEC)

iguana = i-gua-na2 (idem)

 

Importa assinalar, também, que, em casos de translineação (partição da palavra para mudança de linha), esta separação, embora obedeça às regras de silabação, deve respeitar algumas normas específicas, entre as quais figura a ocorrência de vogais isoladas (que formam sílaba) no início ou no fim da palavra, casos em que não se deve separar. Portanto, e citando Cunha e Cintra, «não se deve escrever no princípio ou no fim da linha uma só vogal. Evite-se, por conseguinte, a partição de vocábulos como água, aí, aqui, baú, rua, etc.» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 69)

Nota: Para os casos de dúvida sobre divisão silábica, acentuação e sílaba tónica (para além da grafia), aconselha-se a pesquisa no

Pergunta:

A frase «Como observa-se na figura x» está correcta?

Ou devia ser «Como se observa na figura x»?

Resposta:

«Como se observa na figura x» é a frase correta, com a colocação do pronome se antes do verbo/predicado (próclise), uma vez que se encontra numa oração subordinada — ou seja, uma oração subordinada conformativa, iniciada pela conjunção como —, um dos casos previstos pelas regras gerais sobre a posição dos pronomes.

Segundo a norma, «é preferida a próclise (colocação anterior ao predicado) do pronome […] nas orações subordinadas desenvolvidas, ainda quando a conjunção esteja oculta» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 311-312), razão pela qual a primeira frase apresentada não é correta.